O meu pai, Aloisio "Gordinho”, na criação dos filhos, foi “mais grosso do que papel de enrolar pregos”. Isto já é o bastante para imaginar o quanto sofríamos na mão dele. Mesmo assim somos agradecidos pela educação que ele nos deu, procurando moldar o nosso caráter na justiça, lealdade e honestidade.
Para criar os seus oito filhos (antigamente a diversão de pobre era “fazer menino”), o meu pai, além de funcionário da REFFESA - Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima - onde era radiotelegrafista "de mão-cheia" e depois Chefe de Estação - foi obrigado a “botar um bar”, que foi administrado por mim e meus irmãos, sob a forma de revezamento.
Todo mundo que morava em Palmeira dos Índios, anos 60 e 70, conhecia muito bem o bar “Senadinho”, vizinho ao Aero Clube, frequentado somente pela alta sociedade local, uma vez que vender qualquer coisa (de guaraná a cachaça) aos bebuns e aos pinguços, nem pensar! Se algum de nós atendesse a quem não preenchesse certos requisitos exigidos pelo meu pai, "o couro vadiava".
Agora vamos ao causo, para mim inesquecível:
Naquela época, existia um grupo de rapazes da alta sociedade palmeirense apelidado de “A ESQUADRILHA DA FUMAÇA” porque era comentário geral na cidade que eles gostavam de "fumar uma maconhazinha". Era uma época que quem fumava maconha era "maconheiro"; hoje, é "dependente químico". Quem fumava maconha era visto como uma marginal. Hoje em dia, tem até cantora famosa que pede um “baseado” em show, promovido e pago com o dinheiro do povo, e ainda esculhamba com a polícia, como fez a Rita Lee em Aracaju.
Voltando ao nosso caso, infelizmente, vou omitir os nomes dos “pilotos” porque quase todos já faleceram e os que continuam vivos (acho que 1 ou 2, não sei...) são, hoje, figuras respeitadas na cidade. Os palmeirenses "das antigas" sabem muito bem de quem estou falando...
Pois bem, certo dia, "ainda inocente das coisas mundanas”, estava tomando conta do nosso bar quando chegou "o comandante” da famosa esquadrilha (já falecido). Sabedor das determinações do meu pai, e da severidade dos seus castigos, eu comecei a implorar a Deus para que o sujeito “avionasse” e fosse embora, antes que meu pai aparecesse. Nada do sujeito ir embora. O cara ficou por ali, como quem quer e não quer. Em determinado momento, virou-se para mim e perguntou:
- Menino, você conhece o Zé Pelintra?
Imediatamente, respondi que não. Então, ele afirmou exatamente assim:
- Zé Pelintra é eu!
Dito isto, ele voltou a perguntar:
- Você conhece o seu Cuca?
Ora, por associação (desde garoto que sou inteligente), inocentemente, respondi, na bucha, exatamente como ele fez na pergunta anterior:
- O seu Cuca é eu!
Nesse momento, o meu pai estava acabando de chegar. Ao avistar o meu velho, o safado do cara foi logo comentando (lembrando que eu e o meu pai temos o mesmo nome):
- Aloisio, o seu filho está muito sabidinho... Ele disse que “Seu Cuca é eu”!
A entonação maliciosa que ele usou na frase deu a entender que eu tinha lhe dito que o “fiofó” do meu pai estava "querendo o cara". Papai, ao ouvir a indireta do cabra, como se diz na gíria, "juntou a fome com a vontade de comer”: deu-me uma bofetada no “escutador de novela” que ainda hoje, quando me lembro, ouço um zumbido e começa a doer!
Só tempos depois foi que eu vim entender o “espírito” da frase: "O seu Cuca é eu”.
É por isso que hoje dou razão ao meu velho:
- Se eu fosse meu pai, naquele dia, eu batia em mim!
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