Texto de Luiz Ferreira da Silva
Artigo
elaborado na expectativa
de resgatar ex-alunos do Mestre,
com
vistas a um pretenso encontro.
Em 1956, por orientação do
colega do Liceu Alagoano, Djalma Bastos de Morais, seu sobrinho, matriculei-me
na primeira turma de álgebra do Professor Benedito, como assim era mais
conhecido
Não era para qualquer um.
Além de famoso e exigente com o giz nas mãos, sua forte compleição física e voz
aguda estridente, ademais das baforadas do seu cachimbo, externavam um campo
energético contagiante, que ia da admiração ao receio absortivo.
Com certeza, era essa aura
que mantinha a classe vidrada nos seus ensinamentos, eivados de trejeitos e
certo humor, mantendo-a plenamente conectada, facilitando o entendimento de
temas áridos.
Dessa forma, discorria
sobre a teoria de aritmética, uma matéria desconhecida da turma, até chata, mas
palatável à medida que o mestre a empurrava de goela a dentro, mostrando o
quanto era importante ou interessante saber os “noves-fora um” ou que “zero
dividido por zero era sete”.
Mais adiante, esmerava-se
em nos explicar a correspondência dos lados do triângulo, identificando os
ângulos congruentes, fazendo-nos ligados à semelhança desta forma geométrica,
diretamente ou sobrepondo-os imaginariamente.
No mesmo diapasão, já na
segunda turma, um outro tema não tão ao nosso gosto, as famosas séries
convergentes, era esmiuçado a um nível de compreensão plena.
No decorrer das aulas,
usava técnicas para amenizar a chatice dos números, ora com alguns “chistes”
curtos, ora dando um freio de arrumação no pessoal, evitando dispersão ou
perturbação da ordem.
Um aluno, ao lhe ser
perguntado sobre determinado assunto, no decorrer de uma sua explanação,
respondendo que sabia, mas se esquecera, prontamente, na bucha – “se
esqueceu ou nunca soube”?
De outra feita,
interrompido no meio de um teorema, voltava-se ao interlocutor inopinadamente –
“aguarde um pouco, deixe-me concluir, que isto aqui está decorado”.
Ou, concentrado num problema
com a poeira do giz lhe maquiando o rosto, notava alguém sem prestar a devida
atenção, conversando com o parceiro ao lado, parando a aula: - “vamos
esperar que o fulano acabe o papo, para eu poder continuar com a aula”.
Isso deixava os dois no chão, literalmente.
Por outro lado, melhorei o
meu deficiente latim do padre Pontes, como um efeito colateral positivo. No
meio duma afirmativa matemática, lascava a expressão “mutatis mutandis”,
que nos orientava a aplicá-la em outras situações, bastando mudar o que deveria
ser mudado. E quem não se lembra do “a fortiori”?
O nosso acesso era
restrito ao salão, logo à direita após subir os degraus da soleira daquela casa
da Praça das Graças, limitando-se ao início do corredor, interceptado por sua
cadeira e balanço, lugar preferido para o seu “fumacê” de fumo aromático.
Nunca presenciei ninguém
lá de dentro, tampouco sua esposa. Possivelmente, ordens dele. Aliás, falava-se
que se casara com uma tia. Com certeza, se é verdade, sob uma paixão
avassaladora, transformada num amor de almas gêmeas.
Para se aquilatar o valor
dos cursos do Professor Benedito, basta mensurar através dos subsequentes
engenheiros, físicos, matemáticos, funcionários do Banco do Brasil e oficiais
militares, de origem alagoana, espalhados por esse Brasil a fora, frutos do seu
magnífico intelecto. (Maceió, AL, 24 de julho de 2.020).
Espero resgatar antigos colegas que frequentaram os bancos escolares do Mestre Biu, lá na Praça das Graças, na expectativa de promover um Encontro de saudades e reverência ao Professor Benedito de Morais. Para tanto, estou aproveitando este fecundo espaço gentilmente cedido pelo Dr. Aloísio Rodrigues.
ResponderExcluirDesculpe-me o colega escritor por ter errado seu sobrenome, GUIMARÃES. Provavelmente confundi com outro grande colega, do mesmo ramo, Amauri Rodrigues, com quem mantenho constantes contatos.
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