domingo, 17 de janeiro de 2021

JOÃOZINHO, O ABELHUDO

 Texto de Aloisio Guimarães

Joãozinho nasceu e passou a infância em São Miguel dos Campos, próspera cidade do interior de Alagoas. Desde cedo, foi um menino mimado, recebendo dos seus pais tudo aquilo que queria. Mas, surpreendentemente, ao contrário ao que se poderia esperar, Joãozinho se mostrou um menino bonachão, amigo de todos e muito brincalhão.
Como nasceu em berço de ouro, Joãozinho sempre era vítima da inveja e da malícia de muita gente, que o chamava de menino traquino uma vez que ele sempre era visto brincando pelas ruas da cidade: ora jogando bola, ora brincando de esconde-esconde; ora soltando pipa, ora jogando pião... Sendo, algumas vezes, alvo de comentários do tipo:
- Do jeito que vai, parece que o Joãozinho não vai ter um “bom fim”...
Pois bem, numa dessas oportunidades, por volta dos 12 anos de idade, Joãozinho jogava bola com os amiguinhos na pracinha central da cidade, quando, de repente, levou uma bolada no “quengo”. Com o impacto da bolada, Joãozinho ficou desacordado durante alguns segundos. Nada de grave.
O tempo passou, Joãozinho se fez adolescente (sempre “traquino”), rapaz, homem feito... Durante seu desenvolvimento, jamais sentiu algum efeito da tal bolada.
Hoje, na casa dos 60 anos, Joãozinho começou sentir um zumbido constante na cabeça, que o deixa desesperado, até com muitas dificuldades para dormir. Imediatamente, o nosso personagem se lembrou da tal bolada que levou na infância e, muito apreensivo, procurou Dr. Ricardo, um médico “especialista de cabeça” que, por sinal, era seu amigo de infância e também havia participado daquele fatídico jogo de bola:
- Amigo, Joãozinho, há quanto tempo! O que o traz aqui?
- Ah, Ricardinho, estou com um zumbido da bubônica nos ouvidos. Quase que nem consigo dormir, cara!
- Aconteceu alguma coisa, suspeita de algo?
- Olha, Ricardinho, você se lembra daquela vez que a gente jogava bola, lá na praça de São Miguel, e eu levei uma bolada na cara que vi estrelinhas? Para mim, é a única coisa que pode estar provocando tudo isso...
- Joãozinho, não se preocupe, vou pedir uns exames e ver o que acontece...
Dito isto, o médico pediu uma cacetada de exames: exame de sangue, exame de urina, exame de fezes, tomografia computadorizada, ressonância magnética... O diabo a quatro! Foi tanto exame que Joãozinho precisou de “socorro” para levar os resultados para o médico:
- Pronto, Ricardinho, aqui estão os exames que o você pediu...
Depois de vários minutos examinado os laudos e verificando as imagens contra a luz, doutor Ricardo sentenciou:
- Joãozinho, meu amigo, você é um homem de sorte, não tem nada errado na sua cabeça...
- Mas, Ricardinho, como é, então, que esse zumbindo da gota serena não para de maneira nenhuma?
- Joãozinho, só quem pode dizer se o zumbido vai parar ou não é o tempo. Não se desespere...
Dito isto, o médico pegou o telefone celular, teclou alguns números e falou:
- Alô, mãezinha? Sabe o Joãozinho, aquele do zumbido no “escutador de novela”, que falei pra senhora? Aquele, meu colega, lá de São Miguel? Ele está aqui; fale com ele... Em seguida, Dr. Ricardo passou o telefone para Joãozinho, que ouviu:
- Joãozinho, meu filho, isso não tem jeito nenhum; é pra toda a vida. Entregue a sua cabeça a Deus, filho. Daqui pra frente, você é o mais novo “abelhudo” da cidade. Seja bem-vindo ao “Grupo do Zumbido”, o nosso grupo no WhatsApp.

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