terça-feira, 7 de dezembro de 2021

EMPREGÃO

 POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

O Juvenal estava desempregado há meses. Com a resistência que só os brasileiros têm, o Juvenal foi tentar mais um emprego em mais uma entrevista. Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exatamente o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:

- Qual foi seu último salário?

- Salário mínimo, respondeu Juvenal.

- Pois se o Senhor for contratado, ganhará 10 mil dólares por mês!

- Jura?

- Que carro o Senhor tem?

- Na verdade, agora eu só tenho um carrinho pra vender pipoca na rua e um carrinho de mão!

- Pois se o senhor trabalhar conosco ganhará um Audi para você e uma BMW para sua esposa! Tudo zero!

- Jura?

- O senhor viaja muito para o exterior?

- O mais longe que fui foi pra Belo Horizonte, visitar uns parentes...

- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Mônaco, Nova Iorque, etc.

- Jura?

- E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu gerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã (6ª feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira com todas essas regalias que eu citei. Então já sabe: se NÃO receber telegrama cancelando até à meia-noite de amanhã, o emprego é seu!

Juvenal saiu do escritório radiante. Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.

Sexta-feira mais feliz não poderia haver. E Juvenal reuniu a família e contou as boas novas. Convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa à base de muita música. Sexta de tarde já tinha um barril de chope aberto. Às 9 horas da noite a festa fervia, a banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta... Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero. A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pro lado do Juvenal. E a banda tocava, o chope gelado rolava, o povo dançava... Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro. Gastara horrores para o bairro encher a pança. Tudo por conta do primeiro salário e a mulher, resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba, meio assustada. Às onze horas e cinquenta e cinco minutos... Vira na esquina, buzinando feito louco, um cara numa motoca amarela. Era dos Correios... A festa parou, a banda calou, a tuba engasgou, um bêbado arrotou, uma velha peidou, um cachorro cagou...

- Meu Deus, e agora? Como vou pagar a conta da festa? - pesava o Juvenal...

- Coitado do Juvenal, tá fodido, tomou no cu! - Era a frase mais ouvida.

Jogaram água na churrasqueira, o chope esquentou, a mulher do Juvenal desmaiou...

A motoca parou, o cara desceu e se dirigiu ao Juvenal:

- Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?

- Si, si, sim, so, so, sou eu...

A multidão não resistiu...

- Ooooooohhhhhhhhh!!!!!!!!!

E o cara da motoca:

- Telegrama para o senhor...

Juvenal não acreditava... Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos. Silêncio total. Não se ouvia sequer uma mosca! Juvenal respirou fundo e abriu o envelope do telegrama tremendo, enquanto uma lágrima rolava, molhando o telegrama. Olhou de novo para o povo e a consternação era geral. Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler. O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:

- E agora? Quem vai pagar essa festa toda?

Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava... Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico.

- Mamãe morreeeeuuu! Mamãe morreeeeuuu! Mamãe morreeeeuuu!

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