segunda-feira, 22 de abril de 2024

MALUCO "BELEZA"

 Texto de Aloisio Guimarães

É praxe que toda cidade interiorana tenha suas figuras folclóricas. A minha querida Palmeira dos Índios, no agreste alagoano, não fugiu à esta regra. E lá, como dizia o meu velho e saudoso pai, Aloisio "Gordinho", foi logo "de enxurrada", com cinco malucos, todos vivos e quase numa mesma época: "Preá Cuiudo", "Beleza", "Jaciobá", "Pitú" e "Chupetinha".
Lembro-me bem deles, até porque, sendo criança, morria de medo dos nossos "malucos".
● PREÁ CUIUDO
Era o menos doido deles todos. Na verdade, Preá Cuiudo jamais poderia ser considerado doido. Ele era um trabalhador, eletricista de profissão e que teve a honra de ser presenteado pela natureza com “algo avantajado”, que saltava aos olhos da cara (ou seria das cuecas?). Era de estrutura baixa, andava meio curvado, com a língua para fora e no canto da boca. Ele endoidava somente quando a meninada o chamava pelo seu apelido. Nessas horas, sai debaixo!
● BELEZA
Se vestia igual a um cabra de Lampião. Andava sempre cheio de bugigangas penduradas na roupa do corpo, pedaços de paus nos ombros... Mas não ofendia ninguém. Babava muito e seu passatempo preferido era tocar seu realejo. Vez por outra, quando ele aparecia no Senadinho, bar pertencente ao meu velho pai, este lhe dava uma lapada de cachaça e Beleza seguia o seu caminho, feliz da vida.
● JACIOBÁ
Era o mais engraçado de todos porque, além de doido, era surdo-mudo! Apesar dessa estranha combinação, todo mundo entendia tudo aquilo que ele queria dizer. Quem gosta de futebol e morou em Palmeira dos Índios, deve se lembrar de muito bem dele: morava, juntamente com o seu cão vira-latas, em um cômodo debaixo da arquibancada do Estádio Edson Amaro (hoje, Estádio Juca Sampaio), do glorioso CSE (Centro Social Esportivo), time do nosso coração. Ele vigiava, fazia a marcação do campo e cuidava do estádio. Certa vez, o Ednelson (lateral direito), para sacanear com Jaciobá, fez aqueles gestos característicos de quem tinha enrabado o cachorro dele. Não deu outra: Jaciobá endoidou de vez, puxou uma faca-peixeira e colocou o Ednelson para correr; ele e dezenas de pessoas que assistiam ao treino, inclusive eu! O que mais chamava a atenção no Jaciobá era a sua assiduidade ao Cine Palácio, do nosso vizinho Itamar Malta. Podia chover canivetes, mas todo santo dia, ele estava no cinema, na primeira fileira, a três metros da tela. Assistia ao mesmo filme vários dias seguidos. O engraçado era que, naqueles filmes em que o artista morria no fina”, Jaciobá esbravejava alto, chorava (mas chorava mesmo!) e exigia o dinheiro pago pelo ingresso de volta. Não parava de chorar até que o “seu” Zé Gomes (administrador do cinema) devolvesse o dinheiro. No dia seguinte, passando o mesmo filme, lá estava Jaciobá, novamente no cinema, chorando e exigindo o dinheiro de volta! Amanheceu morto, no lugar em que sempre viveu, embaixo da arquibancada do velho estádio, provavelmente de ataque cardíaco.
● PITÚ
Viveu muitos anos na cidade. Era um doido quase que inofensivo. Apenas ficava uma fera, atirando pedras, quando o chamavam por este apelido. Ninguém sabe o motivo de sua raiva nem o seu paradeiro final.
● CHUPETINHA
Era aquele que mais metia medo na garotada era o pela fama de imoral e tarado sexual: gostava de se masturbar em via pública. Esse tipo de comportamento sexual indevido é muito comum em pessoas com determinadas anomalias da cabeça, digamos assim. Certo dia, Chupetinha apareceu morto (assassinado a golpes de enxada), em um matagal situado por detrás da Estação Ferroviária. Até hoje ninguém sabe quem o matou e quais os motivos. Provavelmente, alguém que não gostou de alguma imoralidade que ele tenha praticado.
Com certeza, onde quer que eles estejam, devem estar provocando muitas gargalhadas. que Deus os tenha...

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