segunda-feira, 1 de abril de 2024

O HOMEM QUE DEU A LUZ

Texto de Aloisio Guimarães

Aqui vai um caso verídico e de repercussão mundial, com direito a diversas reportagens nos jornais e nas mais renomadas revistas da época.
Corria o ano de 1966...  No povoado Lajes do Caldeirão, zona rural de Palmeira dos Índios, morava um caboclo de nome José Joana. Vaqueiro de profissão, ele era respeitado por todos. Não tinha boi brabo que ele não domasse e nem boi desgarrado que ele não se embrenhasse nas caatingas e não trouxesse o animal de volta para o rebanho.
Certo dia, para surpresa geral, a Rádio Sampaio de Palmeira dos Índios (até então a única emissora do sertão e agreste alagoano), acabara de noticiar uma verdadeira bomba:
- UM HOMEM TINHA ACABADO DE DAR A LUZ NA CIDADE! O VAQUEIRO JOSÉ JOANA TINHA PARIDO!
Logo, a população das cidades circunvizinhas (Maribondo, Quebrangulo, Santana do Ipanema, Minador do Negrão, Igaci, Cacimbinhas, Arapiraca...) estava toda sintonizada na emissora, ouvindo a entrevista do Dr. Wilson Costa, o médico que tinha realizado o parto.
Além de ouvir a entrevista “pelas ondas do rádio”, tive o prazer de ouvir, "de viva voz”, o relato do médico, uma vez que ele, além de morar vizinho à nossa casa, frequentava o “Senadinho”, famoso bar de meu pai, para onde se dirigiu tão logo terminou a entrevista na emissora de rádio.
Na verdade, JOSÉ JOANA era JOANA JOSÉ, ou seja, nascida mulher, a garota foi criada como homem e ninguém sabia, exceto a sua família. O que tinha acontecido era que o seu pai queria a todo o custo um filho homem e, como não conseguiu, fez com que ela fosse criada como tal. Por conta disso, Joana José adotou o nome masculino, sempre se vestia como homem, tomava cachaça, praticava quebra de braço (braço de ferro), contava piadas, corria vaquejada, não fugia de uma boa briga... Fazia tudo, ou quase tudo, que um homem faz.
Mas, como não se pode enganar o mundo o tempo todo, um vaqueiro amigo seu, de nome Jiló, descobriu a coisa toda no dia em que flagrou “ele” se acocorando para urinar! Descoberta a fraude, não deu outra coisa: Jiló “passou-lhe a bimba”.
Grávida, “ele” escondeu “o bucho” dos amigos e dos vizinhos o tempo todo, até o dia do parto. Por isso a surpresa geral de todos que “o” conheciam.
Depois desse acontecimento, quem queria sacanear comigo, principalmente os colegas da Faculdade de Engenharia, diziam que eu era de Palmeira dos Índios, cidade onde o homem dava a luz. Mas, como sempre tive resposta para tudo, sempre que ouvia “tal ofensa”, rebatia, dizendo:
- Você está errado, cara, Palmeira dos Índios é terra de cabra macho, mas tão macho, macho mesmo, que homem faz filho em outro. Quando você quiser ter um, dê uma voltinha por lá!
Um santo remédio: imediatamente, o engraçadinho se calava.

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