sábado, 18 de março de 2017

SESSÃO DE ARTE

Texto de Aloisio Guimarães

No meado dos anos 70, a praia e o cinema eram as maiores diversões, uma vez que Maceió era uma cidade quase que provinciana, a televisão era incipiente (e por isso mesmo muito cara) e não existia internet, nem DVD, nem celular...
Nesta época, o cinema São Luiz, que ficava na Rua do Comércio (onde hoje é a Loja Insinuante) começou a exibir a chamada "Sessão de Arte", onde filmes escolhidos eram mostrados todas as sexta-feira, às 22:30h. Por conta disso, retornávamos para casa pela madrugada. Nesse tempo, podíamos sair e voltar para casa a qualquer hora do dia ou da noite, sem o risco de sermos assaltados. Assalto era coisa de cinema.
Estávamos vivendo um período militar onde todo jovem estudante queria posar de intelectual, mesmo que não soubesse porra nenhuma! Era "cult" repetir frases feitas dos grandes pensadores, para passar a ideia de que éramos politizados.
A iniciativa de apresentar esta sessão foi um sucesso imediato, principalmente no meio universitário. As filas para a compra dos ingressos eram enormes, ao ponto de muitas vezes o filme começar e muita gente ainda estava do lado de fora.
Como eu morava na pensão da Dona Severina, na antiga Rua da Praia (Rua Libertadora Alagoana), localizada pertinho do centro, nunca tive problemas com ingressos, porque logo cedo já estava na fila, esperando a bilheteria abrir. Quase sempre, eu era o primeiro a comprar o ingresso. Para quem não sabe, muitos profissionais hoje renomados no nosso estado (engenheiros, médicos, odontólogos...) moraram na pensão da Dona Severina (já falecida).
Voltando ao causo...
Certa sexta-feira ia passar, na tal "Sessão de Arte", um filme muito esperado: "Um estranho no ninho", com Jack Nicholson (um filmaço).
Era muita gente, principalmente estudantes, querendo assistir o filme. As duas filas da bilheteria eram enormes e eu, como sempre, era o primeiro em uma delas, esperando a bilheteria abrir, quando, de repente, senti alguém bater no meu ombro e pedir:
- Aloisio, dá para você comprar o meu ingresso e o do meu namorado?
Olho para trás e quem é que eu vejo? Vejo a Priscila, colega de classe da Faculdade de Engenharia, que, até então, nunca tinha, nem ao menos, me dado um bom dia, apesar de já estarmos no 4° período.
Apesar da surpresa de descobrir que ela sabia o meu nome, a sua falta de cordialidade nos corredores e salas da universidade, somada ao ódio que tenho por quem se mete a furar filas, fez com que eu juntasse a fome com a vontade de comer e, vingativamente, além de não comprar os ingressos pedidos, aproveitei para dar o troco, em voz alta:
- Moça, o final da fila é lá atrás!
Não tenho certeza se nesse dia ela conseguiu entrar no cinema...

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