Manoela era a alegria da
rua, menina sapeca, gordinha, corria por todos os cantos e sítios de mangueira,
adorava manga, tornou-se a queridinha do bairro. Aos 14 anos tomou corpo, ela
percebia olhares mal-intencionados dos homens, a adolescente precoce sentiu a
transformação do ser, os hormônios apareceram fazendo um furacão naquela jovem
morena. Começou a namorar colegas de aula, a mãe a deixava na escola, tinha de
trabalhar para sustentar a filha. Manoela foi criada em total liberdade, vivia
na rua com os amigos, jogando bola, pião. Sem orientação sexual, ao descobrir
os encantos das carícias deixou-se levar pela lascívia, engravidou, foi a
terrível notícia recebida pela mãe, religiosa, não permitiu o aborto, teve o
filho, menino gordinho moreno, deram-lhe o nome de Francisco.
Manoela abandonou os
estudos, procurou emprego, copeira, lavadeira, cozinheira, fazia qualquer
serviço para ajudar a mãe. Uma colega desencaminhou-a a fazer programa, ela
enfrentou um homem sem escrúpulos, sem higiene, detestou, teve nojo, nunca mais
fez programa na vida. Certa vez participou de um curso do SENAC de
cabeleireira, descobriu sua vocação, empregou-se em um salão de beleza, a jovem
fez rápido sucesso, suas mãos suaves, mágicas, obedecem à criatividade, sabem
manusear cabelos.... Manoela tornou-se a queridinha das dondocas, das
socialites, nos dias de sextas-feiras trabalha até altas horas. Em três anos
juntou algum dinheiro, comprou casa nova modesta para família. Apesar de alguns
pedidos, nunca quis casar, nunca quis se amarrar, gosta da vida, ama ser
solteira, ser boêmia, ser independente.
Aprendeu a usar
anticoncepcional e camisinha, hoje vive para amar, nem que seja amor passageiro
de uma noite. Manoela escolhe seus amores, gosta da noitada, da cerveja,
da boemia nos fins de semana. Segundo um médico, parceiro esporádico na cama de
Manoela, além do furor uterino, ela tem o poder, o instinto, de realizar as
fantasias dos homens, seja jovem ou idoso. Nunca aceitou dinheiro por instantes
de amor, transa porque quer, porque gosta, tem suas prioridades na escolha dos
parceiros, gosta de homem bonito, bem vestido, limpo, não interessa a idade.
Certa noite, Manoela tomava
umas cervejas com amigos num bar da Lagoa, de repente ele apareceu, estampa de
homem, quase 1,90 metros, espadaúdo, cabelo preto escorrido ao ombro, parecia
um artista de televisão, todo bonito. Ao vê-lo entrar no bar, as pernas de
Manoela tremeram de leve, o sangue veloz nas veias avermelhou o rosto,
esquentou a temperatura. Por sorte ele conhecia uma das amigas, veio em direção
à mesa, sentou-se em frente de Manoela. A simpatia da cabeleireira encantou
Salomão, o jovem bonito, passaram a noite conversando, bebendo e comendo. Eram
duas horas da manhã ao fechar a conta, Manoela pediu carona a Salomão, moravam
perto, descobriram, ao deixá-la em casa ela o abraçou, beijou-o na boca, ele
não correspondeu, afastou-a com carinho, abriu seu coração.
- Manoela, gostei muito de
você, entretanto, entre nós existe um grande empecilho, sou homossexual, gosto
mesmo é de homem.
Ainda em estado de choque
ela respirou fundo, olhou nos olhos de Salomão, disse apenas, "um
desperdício". Foi dormir.
Por toda semana lembrava a
imagem de Salomão, aquele Deus, o homem mais bonito que conhecera na vida,
despertou-lhe incontida paixão, contudo, jogava no outro time, não acreditava.
Salomão não lhe saiu da cabeça.
Outro sábado à noite no
mesmo bar, com as mesmas amigas, contou o ocorrido, elas já sabiam, sorriram e
caçoaram. De repente entra Salomão, bem vestido, bonito, parecia uma estátua.
Conversaram, beberam, comeram, divertiram-se. Na hora da saída Manoela entrou
no carro de Salomão, ao passar num motel à beira da lagoa, ela convidou-o a
tomar mais cerveja, nada iria acontecer, insistiu, ele com relutância entrou no
motel. Daí por diante com sua magia, sua química, sua maestria e competência, a
cabeleireira conseguiu transformar Salomão. Hoje ele é bissexual assumido e um
dos parceiros amorosos mais frequentes da grande Manoela, a cabeleireira.
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