O gol de Sneidjer deixou o Bar MK em tristeza
profunda, término da partida, Holanda desclassificou o Brasil na Copa do Mundo
de 2010, silêncio gritante, muito choro. Bruno deu um ponta pé na cadeira,
sentou-se em outra, cabeça entre as mãos, olhando no infinito entornou o copo
de uísque. Nesse momento, Sarita, jovem gordinha argentina, a seu lado, alisou
os cabelos de Bruno. Ofereceu-se, sair daquele bar, passar o resto da noite num
motel se consolando. Bruno, cheio de raiva, irracional, desabafou na amiga.
- Vá te
catar, Sara! Procure um gorducho igual a você. Barril de merda! Me deixe em paz!
A grossura de Bruno foi uma punhalada no peito,
Sara Gimenez desabou, chorou como uma menina, pensavam ser a derrota do Brasil,
argentina hermana, alguém comentou.
Dois
meses depois Sarita retornou à Buenos Aires, seu pai havia terminado um
trabalho de três anos em perfurações, ela nunca esqueceu o fatídico dia da
eliminação do Brasil pela Holanda, avistou Bruno algumas vezes, não o
cumprimentou. Em Buenos Aires matriculou-se na Universidade, inteligente,
concluiu o curso de jornalismo em quatro anos.
Quanto a Bruno, o garanhão, engravidou uma
namorada, por imposição das famílias casou-se, continua mulherengo, não
respeita a esposa, pensa apenas em deitar-se com todas as mulheres do mundo.
Inveterado conquistador.
Sábado passado Sarita reapareceu em Maceió,
veio fazer a cobertura da Copa do Mundo para um jornal argentino, telefonou para
amigas, encontraram-se no Bar MK, balada noturna. A jornalista fez sucesso, a
gordinha desajeitada transformou-se numa bela, elegante e sensual mulher, os
amigos encantados com o bom humor, a conversa, o sotaque e a beleza da portenha.
Bruno sentado em mesa perto, não a reconheceu. Sarita passou cumprimentando-o:
- Olá,
Brunito!
Pela voz, inconfundível, percebeu ser Sarita.
Ele levantou-se surpreso, aproximou-se, beijou-lhe a face, deslumbrou-se por
aquela mulher fascinante, bem vestida, metamorfose da gordinha insossa. Ele conversava
olhando insistentemente o decote generoso da argentina, pediu para ficar em sua
mesa, todo prosa, paquerava Sarita Gimenez desbragadamente. Homem casado teve
que se recolher mais cedo, pediu o número do celular de Sara. Ela ficava em
Maceió até a abertura da Copa, na sexta embarcava para o Rio, cobrir os jogos
da Argentina. Todos os dias Bruno telefonou tentando marcar encontro, alucinado,
só pensava em Sarita, nunca uma mulher despertou-lhe tanto desejo. Sara admitiu
um encontro, sugeriu assistir ao início da Copa, Brasil x Croácia, num motel, depois
comemoração no Bar MK. Aceita a sugestão. Único problema, Bruno casado, não
ficava bem Sarita andar em seu carro. Acertaram o melhor motel da praia de Jacarecica,
ele iria na frente, quando estivesse no apartamento do motel telefonava para
Sarita, logo ela chegaria de taxi, uma tarde de amor, emoção, alegria,
comemoração.
Na quinta-feira Bruno embromou a esposa, disse
que assistiria o jogo na casa do Nivaldo, sabendo que ela o detestava, marcaram
para se encontrarem no Bar MK depois da vitória do Brasil. Às três horas da
tarde Bruno passou numa farmácia, comprou camisinha e viagra, rumou à
Jacarecica. Na suíte presidencial tomou banho demorado, enxugou-se, perfumou-se,
olhando-se no espelho, narcisista de nascença. Enrolou-se numa toalha, às quatro
horas telefonou para Sarita. Ela atendeu, chegaria a pouco, esperasse.
Na terceira dose de uísque, faltando dez minutos
para cinco, Bruno tornou-se ansioso, Sarita não chegava, tocou o celular várias
vezes, fora de área ou não atendia. Teve de assistir ao jogo sozinho, Sarita
não apareceu. De repente lembrou-se de sua grossura quatro anos atrás. Ao
terminar a partida, 3 x 1 para o Brasil, Bruno dirigiu-se ao Bar MK onde estava
sua esposa. Em uma mesa repleta de gente, Sarita, belíssima, bebia comemorando
a vitória do Brasil, olhou para Bruno, às gargalhadas, junto aos amigos.
Vingança de mulher às vezes custa quatro anos que nem Copa do Mundo, mas chega.
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