Domingo pela manhã eu saboreava um verona,
sanduíche predileto, na “Palato”, acompanhado de um efervescente “capucinno”,
quando Gerson sentou-se a meu lado na enorme mesa de casa de fazenda
ornamentando o requintado ambiente.
Um homão com seus trinta e poucos anos, mais de
1,80 metros de altura, corpo de atleta, cara bonita, xodó das meninas. Hoje
advogado brilhante, ambicioso, atuante.
Em boa conversa ele teorizava, o auge da beleza
feminina está na maturidade, sabedoria de cama e mesa. Uma mulher de quarenta,
cinquenta, sessenta anos, sabe do que o homem gosta. Discursou, como se
estivesse no Fórum, defendendo a eficiência operacional da mulher madura.
Depois de ouvir seus argumentos, concordei, as
mulheres com alguns quilômetros rodados têm prática mais apurada, sem desprezar
uma bonita menina, uma jovem de 20 aninhos é revigorante.
Gerson empolgado com o assunto, contou-me a
aventura delirante que está vivendo. Achando a vida mais bonita, mais
cor-de-rosa por um amor maduro.
Meses atrás, ele frequentava um curso com
alguns advogados, promotores, juízes, inclusive uma advogada beirando os
sessenta, senhora letrada, inteligente, de um bom humor notável. Ele teve uma
empatia instantânea por essa mulher, viúva, bela e gostosa.
Dora, três casamentos, além de casos amorosos,
foi muito poderosa nos bastidores da política. Nas brigas do poder ela metia a
mão de ferro, protegendo seus afilhados, seja no poder Executivo, Judiciário ou
Legislativo, durante o mandato de seu amante, o governador, ela era ouvida, teve
poder de decisão. Esse poder conquistou pela inteligência, firmeza e posições
tomadas, principalmente na cama.
A coroa tem ânsia de viver. O mais de meio
século não deixou marcas na jovem alma. Alegre, corpo cuidado, bem moldado nas
academias e nos cirurgiões plásticos.
Mulher de muita leitura gosta de atualizar-se,
aprender. Gerson e Dora frequentaram o curso durante três meses. Todas as
noites estudavam juntos, gostavam da companhia. Ele a via como uma irmã mais
velha, entretanto, apreciava os decotes ousados dos vestidos da bela dama.
Certa noite foram terminar um trabalho em grupo
no espaçoso apartamento de Dora na praia de Ponta Verde. Mais de duas horas de
discussão numa mesa circular, deixaram a conclusão do trabalho para outro dia.
Dora ofereceu um gostoso lanche, queijo regado a vinho e uísque. O grupo se
divertiu até tarde, ouvindo boa música, conversa inteligente. Gerson cantou
dedilhando um violão, “Dora, rainha do frevo e do maracatu...”. Recebeu um
beijo lambido no ouvido.
Foi sugerido continuar os trabalhos no sábado à
noite, no mesmo local.
Sábado cedo, Dora foi ao mercado comprou
camarão e arabaiana, o prato da noite, filé de peixe ao molho de camarão. Ligou
para todos os componentes do grupo, se desculpando, pedindo adiar o trabalho
para terça-feira. Não telefonou propositalmente para Gerson.
Quando ele, carregando livros e papéis embaixo
do braço, pontualmente tocou a campainha, Dora abriu a porta com um largo
sorriso, estava maravilhosa, vestido azul colado ao corpo. Gerson estranhou
quando sua amiga falou no trabalho adiado. Convidou-o para entrar, seria uma
companhia agradável se ficasse para jantar.
Sentaram-se na varanda com vista à praia
iluminada por uma azulada lua bonita refletida no mar e nas palhas dos
coqueiros. O uísque rolou, bons tira-gostos, Dora serviu o peixe com camarão.
Ao voltar para a varanda, colocou uma música
suave, americana, “Heaven I’am heaven...”, traduzindo, “Paraíso, estou no
paraíso”. Gerson deu-lhe a mão, saíram dançando, escorregando pela sala, ele
cantou a canção em seu ouvido, puxou seu corpo com vigor, iniciaram uma seção
de carinho e carícia, beijou-a, sussurrando ela pediu para ser levada ao
quarto. Num impulso, colocou-a nos braços como se fossem recém-casados,
empurrou a porta, soltou-a ternamente na cama. O resto é silêncio, como diria
Shakespeare.
Depois dessa noitada, os dois continuam
encontrando-se no mínimo três vezes por semana, adoram uma seção de matinê,
assistindo filmes na televisão, comendo queijos, peixes e outros quitutes.
Gerson espera ansioso os encontros, sem
preconceitos, que importa a diferença de 20 anos entre ele e a poderosa coroa?
Ela sabe tudo e ensina, ele eterno aprendiz.
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