Texto de Isvânia Marques
Professora, Escritora e Presidente da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes
Professora, Escritora e Presidente da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes
Como poderíamos definir o professor? Como um profissional voltado para o
aprimoramento contínuo de sua clientela? Como um amigo, que faz uso de seu
carisma em favor de uma classe mais receptiva às aulas e à aprendizagem? Ou ainda,
como um ser que se liberta de conceitos preestabelecidos, criando condições de
descobrir caminhos capazes de enriquecer a abordagem pedagógica e facilitar a
relação com seus alunos?
Após longos anos dedicados e resultantes da nossa vivência com a educação,
responderíamos que ser professor é ser afirmativo a todas as perguntas
elaboradas no primeiro parágrafo. Mais do que isso: é ser um profissional que
extrapola as suas funções, rompendo o que lhe é sugerido por uma tradição
milenar; atinge a versatilidade de um processo no qual ele se inclui e se questiona;
revê novas metodologias, estabelece parâmetros e possibilidades que o atualizam
dentro de um relacionamento que consiste em promover o crescimento entre mestre
e alunos.
Por meio dessa nossa vivência em sala de aula, contribuímos para a
formação de inúmeras turmas em diferentes entidades educacionais deste Estado. Médicos,
políticos, dentistas, psicólogos, promotores, advogados, contadores, bancários,
professores (e outras tendências profissionalizantes) passaram por nossas mãos,
em seus estágios nas bancas escolares do aprendizado. Compensaram-nos com o
carinho que até hoje se eterniza a cada encontro casual (ou não); com a
transferência de nossos nomes aos seus filhos, no batismo de suas identidades,
deixando neles registrada nossa marca, nossa passagem por suas vidas e, dessa maneira,
ultrapassávamos os limites de nossos compromissos na sala de aula.
É gratificante ensinar, quando este fato consiste numa realização íntima,
vivenciada pela satisfação de representar bem o seu papel, de criar textos
sugeridos pela emoção dos momentos vividos, sempre de maneira espontânea,
diversificada, rica e confiante.
Neste movimento que nos descobrimos psicólogos, analistas, amigos e
profissionais. Canalizamos todas essas tendências aguçadas e provocadas por
nós, direcionando-as à aprendizagem metódica de conteúdos programáticos da
educação, embora sem fugir às propostas do cotidiano, nem transformá-los em
seres insensíveis ao choro, nem agressivos consigo mesmos e com o mundo que
lhes rodeia.
Sinceramente, não sabemos se seríamos mais felizes se tivéssemos escolhido
outra profissão. Não sabemos se a “outra” nos daria chances a tantas
realizações; se tornaríamos esse exercício contínuo uma forma de terapia e, ao
mesmo tempo, de nossas aulas, uma ponte que conduz a verdadeiras amizades.
Possuímos muitos amigos. Dentre eles, ex-alunos que fizeram perdurar e
exceder o entrosamento iniciado na sala de aula, levando para fora dela o que
nela fora plantado. Aprendemos o cumprimento da reverência mútua, do respeito
às normas, às perdas, às diferenças e aos limites de cada um. Respeito que, em
sua noção básica, provém de seu primeiro contato social: a família. Daí então,
comungando e transferindo às outras relações: à vizinhança, à escola, aos amigos,
à sociedade e ao mundo, enfim.
Confiamos na grande parceria compreendida entre a escola e a família. Esse
envolvimento e troca de propostas e experiências engrandecem o principal
elemento e objetivo dessa união, o aluno, uma vez que é este a meta do amor a
ele depreendido pelas duas partes nele interessadas.
Ninguém mais do que a família a querer o melhor para o seu filho; ninguém
mais do que a escola para fazê-lo descobrir seu potencial e se ver como um ser
especial em sua individualidade. A família e a escola devem ser -
constantemente - uma sociedade criada dentro dos critérios que visem ao aluno
como um ser determinante, vivo, inteiro e atuante, precisando de limites
aliados ao amor; de regras aliadas à proteção e de responsabilidades comungadas
às doses de liberdade. A interação, formada pelo binômio aluno e escola, não
funciona sem a participação da família, produzindo benefícios às partes
formadas em torno do bom funcionamento educacional.
Confunde-se o bom profissional na educação com aquele que não imputa
responsabilidade ao aluno nem lhe impõe limites; ou – ainda – não lhe atribui
“não” como resposta imposta às suas exigências imaturas. É tempo de questionar,
refletir, mudar e amadurecer através de experiências convividas com o “sim” e o
“não”, oriundas de uma adversidade natural e da exigência da própria vida.
Não somos heróis. Nem sábios. Nem monstros.
Não nos crucifiquem por nossos fracassos. Nem os pais nem a sociedade. Não
nos queiram mal se somos simplesmente humanos e amantes da emoção e do
conhecimento; dos métodos e da avaliação personalizada; da nossa plateia
(alunos) e da nossa missão em permanente desempenho; da valorização do nosso
time e do entusiasmo da nossa torcida...
Não nos queiram mal, pois somos apenas professores...
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