sábado, 18 de outubro de 2014

O PENTA

Texto de Carlito Lima

É notório e crescente o número de homossexuais nos tempos atuais. Essa explosão demográfica homo, por conta da modernidade, deu coragem e ânimo aos meninos saírem do armário, antigamente nós sabíamos de cada caso.
Existia no bairro do Farol, perto de onde hoje é a TV Gazeta, uma pensão muito especial, Zeiga, o mais famoso hóspede, Ramona, chegado à mágica, mandrake, adorava fazer desaparecer coisas, era o líder, tornou-se o mais conhecido da cidade.
Certa vez aportou em Maceió, um pintor baiano de nome Sandoval Duarte. Fez o primeiro “vernissage” concorrido e badalado. As moças solteiras, as “socialites” da época, ficaram encantadas com o charme daquele artista espirituoso e bonito, parecia um galã de filmes americanos.
Ao revelar-se a opção sexual do grande SANDUARTE, houve “frisson” na sociedade alagoana. O pintor apaixonou-se por um jovem de família tradicional, teve um tórrido e escandaloso caso com o bonito rapaz, também coqueluche das meninas. Hoje, senhor respeitado e temido, exercendo alto cargo cheio de poderes.
Em noite de Baile de Máscara do Clube Fênix, um forte rapaz fez sucesso com luxuosíssima fantasia bordada de lantejoulas e paetês. Ninguém sabia se masculino ou feminino. O sexo do folião só foi revelado durante a premiação, era homem, ganhou o concurso de fantasia de luxo, primeiro lugar. O vencedor era meu primo, neto e homônimo de Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro. Nós o chamávamos, sem deboche, de Fulô. Foi morar no Rio de Janeiro, destino de muitos que iam dar expansão à sexualidade reprimida.
As lésbicas também eram poucas conhecidas, ou refreadas. Hoje encontram-se aos montes, o homossexualismo feminino está em expansão. As mulheres entraram com fervor no caminho da revolução de costumes. Assumiram cada vez mais o “Viva Zapata”. Desfilam com namoradas, dão preferência abertamente às mulheres, comprovam bom gosto.
As coisas mudaram, os homos estão saindo se revelando na maior tranquilidade. Um amigo - vou chamá-lo de Rock, em homenagem a Rock Hudson, ator de cinema que no final da vida revelou-se boiola - depois do terceiro casamento, mora só, num apartamento na praia de Cruz das Almas, ama a vida de boemia e mulheres. Certa vez foi ao Recife passar um fim de semana com a namorada, aliás, uma moça de programa promovida à condição de noiva, assim apresentava Elizabeth aos amigos no Recife.
Quando seu luxuoso carro passava numa curva perto da cidade de Novo Lino, foi cruzado, fechado por uma camionete. Saltaram quatro homens com revólveres na mão apontando, um assalto. Um neguinho magro, cara de fuinha e voz de “foen” entrou e sentou-se no banco traseiro, encostou o frio cano da arma na nuca de Rock. Ele apavorado obedeceu os gritos do marginal, dirigiu o carro até um matagal.
Apareceram os outros assaltantes, arrecadaram cartões de crédito, três mil reais, talão de cheques, jóias e bijuterias da “noiva”. Eram quase seis da tarde, anoitecia, quando dois bandidos levaram Beth para outro local. Nas brenhas fizeram todo tipo de sacanagem sexual.
Enquanto isso, os outros meliantes seguraram Rock, mandaram se despir, deixando-o nu, na posição que Napoleão perdeu a Guerra. Nesse momento o Fuinha estuprou o apavorado Rock. Foi doloroso, ele chorou angustiado.
Com o serviço feito, os assaltantes deram um arranque na camionete, deixaram os dois no carro, levaram a chave.
Passava das nove da noite, quando Rock e Beth bateram numa casa perto de Novo Lino. Foram socorridos. Dormiram num pequeno hotel, prestaram queixa à Polícia. Ao meio-dia do sábado chegou de Maceió, uma chave extra do carro. Rumaram para o Recife.
O assalto deixou algumas sequelas, foram traumáticos os primeiros dias para Rock, estuprado violentamente pelo Fuinha.
Existe uma relação muito forte entre a vítima e o algoz, a célebre "Síndrome de Estocolmo". Rock não esqueceu o Fuinha, tinha sonhos eróticos sendo estuprado, ouvia a voz foen, vinha-lhe uma excitação estranha. Resolveu consultar um psiquiatra. Com três meses de análise, entendeu, o estupro revelou sua ambígua sexualidade.
Rock vive tranquilo, assumiu a bissexualidade, quando dá comichão, quando a vontade chega sem controle, ele vai à noite na orla da Avenida da Paz, escolhe um travesti para um programa.
No maior descaramento afirma sorrindo ser é bissexual porque só existem dois sexos, se fossem cinco sexos, ele seria PENTA igualzinho ao Brasil no futebol.

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