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Favor chamar-me de Dr. Clodoaldo Lima. Não existe o Dr. Clodô, só o Dr. Clodoaldo.
Não desmoralize meu título de bacharel!!!
Casou-se cedo depois que engravidou
uma prima. Ele costumava dizer que “priminha
não era irmãzinha...”. Terminou no altar com Josefa, uma mimosa flor do
povoado do Riacho Velho, um paraíso de Marechal Deodoro. Clodô nunca se
acostumou com a vida de casado, sua vida era de bar em bar pelas ruas da
cidade, onde foi encontrando novos amores. Uma delas, sua colega de repartição.
Ele trabalha, tem uma sinecura na Assembléia Legislativa, coisa mole, vai
algumas vezes na semana até para bater papo, rever os amigos. Gaba-se de ter
arranjado 280 votos para o deputado, seu protetor. Os votos que o deputado teve
em Fernão Velho, ele contabilizava como se fossem todos por ele arranjados. Um
dia apareceu uma menina bonita, vinda do sertão, foi descabaçada por um deputado
daquelas bandas, comprou o silêncio com um emprego na Assembléia. Clodoaldo
logo namorou Rosinha, a “rainha do sertão”,
como ele apelidou. Numa bela tarde, Rosinha confessou que estava grávida.
Rosinha ganhou uma casa da COHAB, do deputado sertanejo, onde ainda mora, e
Clodô assumiu a paternidade, tem o afeto do menino, um rapaz. Na certidão do
jovem consta filho de Clodoaldo Lima, mas é a cara do deputado como dizem as
más línguas. Clodô é homem moderno, não se importa com certas picuinhas, ama o
menino, seu filho do coração. Do lado de Josefa, tem duas filhas, moças
bonitas. Rosa e Josefa não se frequentam, mas se aceitam. Os meninos meio-irmãos
se dão bem quando se encontram.
Durante a última eleição, Clodoaldo
foi enviado pelo deputado para ajudar na campanha no Litoral Norte, tarefa que
fez com satisfação porque terminava as noitadas raparigando. Acontece que uma jovem
de nome Aparecida, quase da idade de suas filhas, 18 aninhos, encantou nosso
Casanova. A moça bonita dava alguma bola, mas quando chegava nos finalmentes
ela escorregava feito um muçum ensaboado. De tanto insistir, numa noite de lua
na praia de Maragogi, despedida de campanha, Clodoaldo conseguiu com promessa
de casamento, casa e comida, uma noite memorável de amor nas águas mornas noturnas.
Nove meses depois nasceu na Casa de Saúde Santa Mônica, o menino José Roberto.
Três famílias, três casas montadas
consomem todo salário de funcionário e de advogado independente. Clodô vive
aperreado de dinheiro, mas sempre com um sorriso nos lábios e um bom astral na
alma. “Trígamo” assumido, convive
como pode com as três esposas. As filhas de Josefa até ajudam a Aparecida com o
recém-nascido. As coisas iam bem com Clodô; as três mulheres não complicam sua
vida. Por tudo isso, resolveu realizar uma festa de confraternização no Natal
passado. Reuniu, pela primeira vez, as três famílias, as três mulheres na casa
da Josefa. O início do encontro foi formal, depois começaram a descontrair. Clodô
estava felicíssimo com o feito, as famílias reunidas. A cerveja, a cachaça, o
uísque entornando. As três mulheres empurravam direitinho um copo, como também Clodoaldo.
Até que certa hora, quando a cachaça subiu para cabeça, Josefa perguntou ao
marido:
- Está
feliz meu amor? Juntando sua esposa e as suas duas raparigas?
Rosa quando ouviu o desaforo, falou
alto:
- Rapariga
é a mãe!
A outra, Aparecida, de imediato foi puxando
os cabelos da dona da casa, arrastando-a pelo chão, gritando que Josefa era “uma coroa sambada” e que Clodô gostava
mesmo era dela, novinha e cheirosa. A briga generalizou-se entre as três. Uma
dando tapa e puxão de cabelos nas outras. A confusão durou quase uma hora. Só
acabou quando cansaram. Clodoaldo conseguiu apartá-las. Levou as duas
convidadas para suas respectivas casas. Nunca mais quis saber de juntar “as meninas”, como ele as chama. Família
que bebe unida, nem sempre permanece unida.
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