TEXTO PARA A VEJA SP - MAIO 2010
Sempre estive dividido entre a volúpia de comer bem e a necessidade de
me alimentar com saúde. A gula venceu boa parte das batalhas.
Nunca hesitei entre um camarão no alho e óleo e um chuchu refogado. Mas
a idade aumenta e o desejo de cuidar da saúde cresce. Aboli a carne de porco há anos, depois de ter lido que era a mais
prejudicial. Se algum cientista dizia, devia estar certo. Abandonei os
torresminhos, as linguiças, os pernis!
Em minha recente viagem ao Japão, soube que pesquisadores do mundo todo
estão estudando a dieta de Okinawa. É o lugar onde mais se vive no mundo. Há
gente com mais de 100 anos andando de bicicleta na rua. O que eles comem rotineiramente?
Carne de porco! Quase chorei de tristeza pelo tempo perdido! Lamentei-me por
todos os lombos assados que desdenhei!
E os ovos? Garantiam que a gema era um veneno para o colesterol. Eu
adoro ovo. Mas passei a evitar. Com a maior cara de pau, o mundo cientifico,
faz algum tempo, anunciou o contrário: o ovo faz bem! Quem me devolve as omeletes não comidas?
Durante algum tempo, para melhorar o colesterol, eu tomava “água de
berinjela”. Deixa-se a berinjela na água durante a noite e bebe-se em
jejum. Não há maneira mais horrenda de começar o dia. No exame seguinte, meu
colesterol continuava igual. Óbvio, o culpado era eu:
- Você deve ter
exagerado em outras coisas. Se não fosse a berinjela, teria piorado! - acusou-me o
médico alternativo.
- Você não é um
bezerro! - explicou delicadamente o tal médico - Pare com o leite de
vaca!
Depois soube que o cálcio do leite animal é importante para os ossos! Em
quem acredito?
Já cultivei uma coisa no aquário, até hoje não sei se vegetal ou animal!
Era um espécime redondo que se reproduzia em placas que se colavam umas às
outras. O segredo era beber daquela água todo dia, para garantir uma vida
longa, saúde perfeita e inteligência aguçada. Foi moda numa certa época. Quando
penso que bebia aquilo e ainda elogiava, não entendo por que não me botaram num
hospício!
E a história dos radicais livres? Partem do pressuposto de que cada
célula é uma ”fábrica” cujo funcionamento deixa resíduos. É preciso elimina-los
com uma boa alimentação. A tese é ótima. A vilã sempre é a carne vermelha.
Aconselha-se a substituição pela soja! Assim, tentei viver à base de carne de
soja! Era tão gostosa como mastigar isopor!
Também incorporei leite de soja.
A última moda em alimentação é a quinoa. Provém dos Andes e é
considerada completa em termos nutricionais. Tem sabor de nada. Achava
impossível algo ter sabor de coisa nenhuma... Dia desses, estava com um amigo
em uma lanchonete. Ele vive de regime. Viu no menu: Sanduíche de quinoa. Aconselhei:
- É um alimento
maravilhoso que não engorda. Agi com boa intenção. Talvez ele gostasse. Veio um
hambúrguer de quinoa frita. Duas desvantagens de uma vez: engordava por causa
da fritura e só tinha gosto do óleo em que fora mergulhado! Quase perdi o
amigo!
Tudo que é delicioso parece fazer mal: batatas fritas, hambúrgueres,
refrigerantes, hot-dogs, bacon! E, claro, qualquer delicia feita de açúcar!
Penso em minha avó que cozinhava com banha de porco e quase chegou aos
noventa. E em outros velhos que conheci. Talvez o povo do passado soubesse algo
sobre alimentação que o tempo esqueceu. No mínimo, eles não viviam
estressados com tantas dietas e informações. Sentiam-se felizes por desfrutar a
comida.
Dietas são boas. Mas acredito que o principal ingrediente para a boa
saúde é a paz de espírito!
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