quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O BAR DO PITÚ

Texto de Carlito Lima

- O negócio está difícil, caixeiro viajante é coisa do passado, o povo só quer comprar nos Shoppings no embalo da propaganda na televisão, cartão de crédito facilitado, não dá para concorrer, vou mudar de ramo, abrir comércio no interior.
Dizia Gumercindo à Antônia, sua mulher, sentados à mesa depois do jantar, ela segurando carnês atrasados, compras no natal no crediário, balançou a cabeça respondendo.
- Você é um homem corajoso, mas tenha cuidado, só não quero perder esse apartamento, mesmo pagando com dificuldade é o que nos resta. Se você não tivesse pedido o PDV, ainda tinha o emprego no Estado, pouco, mas garantido -reclamava Antônia ao marido - E o que você pretende abrir no interior? Por Nossa Senhora!
- O Barbosa, tem experiência em restaurante, ele quer montar o Bar do Pitu às margens do Rio Paraíba onde tem muito pitu, me convidou como sócio, numa condição eu morar no estabelecimento. Ele herdou um sítio beirando o Rio Paraíba, vamos aproveitar os equipamentos, geladeira, fogão, do outro restaurante, ele confia em mim.
- Gumercindo, emprego está difícil, emprego não cai do céu, só para políticos. Tudo bem, acerte com Barbosa, cuidado com ele, é muito sabido, pode lhe enrolar. Vou tirar um empréstimo em nome minha irmã para pagar esses carnês, compramos muita besteira no natal.
Durante o fim de semana partiram no velho fusca, conhecer o sítio à beira do Paraíba. Muitas frutas, legumes plantados, criação de galinhas, o pai de Barbosa conservava o local, era a vida dele. A casa grande com cinco quartos, sala, varanda, cozinha, banheiro. Programaram inauguração para duas semanas, um sábado.
Fizeram propaganda na cidade, letreiros na estrada. Dia da inauguração, sucesso total, todos gostam de novidades, bebida e comida muito boa, local discreto. No final da festa os sócios comemoraram.
O tempo passando, Gumercindo morando no sítio, na segunda-feira retornava à capital, levava algum dinheiro da sobrevivência, o negócio não era tão rentável como se pensava, passaram-se quatro meses.
Depois do São João, Gumercindo apareceu satisfeito da vida, melhoras nos negócios, mais dinheiro. Dona Antônia guardou um pouquinho pela primeira vez na vida de casada, assim foram as semanas seguintes, o lucro aumentando em época de crise, as esposas dos sócios satisfeitas. Antônia, prudente, desconfiada, perguntava o que estava havendo, aquele progresso repentino, o movimento aumentou, tem droga ou mulher no negócio? Gumercindo. Ele apenas respondia, o Bar do Pitu pegou fama, é conhecido em toda Zona da Mata, os fazendeiros gostam, gente rica.
Certo sábado Antônia pediu ao irmão para levá-la ao Bar do Pitu, visita surpresa ao esposo, dormiriam por lá, muitos quartos, sítio enorme. Saíram os dois irmãos estrada afora, com duas horas e meia avistaram o BAR DO PITU, ao se aproximarem ouviram música, no quintal vários carros, movimento ótimo, Antônia desconfiou, alguma coisa no ar, diferente. Ao estacionar avistaram Gumercindo numa mesa conversando com amigos e amigas. Ao ver Antônia ele levantou-se, discretamente aproximou-se da esposa, puxou-a, sentaram-se a uma mesa.
- Antônia, eu estava para lhe confessar, o negócio não estava dando certo, até que veio a ideia, transformamos o Bar do Pitu em cabaré.
Ela surpresa, irada, desvencilhou-se do marido, entrou na casa, alguns casais dançando no embalo da música sertaneja, decoração em luz vermelha. Gumercindo sentou-a numa poltrona, Antônia fechou os olhos, respirou fundo, pensou, continuou calada. Levantou-se, passou a vista em toda casa. Chamou o esposo, retornaram a uma mesa no quintal, ele, surpreso, ouviu:
- Antônio você encontrou sua profissão, gerente de cabaré. Pode ficar tranquilo, levando dinheiro para casa é que me interessa.
O Bar do Pitu pegou fama, a mais antiga das profissões continua em alta no Brasil, o único negócio sem recessão. A freguesia aumenta cada dia.
Hoje, Dona Antônia, satisfeita da vida, dinheiro na poupança, todo fim de semana vai dar uma mãozinha no caixa do cabaré do marido, o famoso Bar do Pitu, pensando em abrir filial na capital.

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