Texto de Carlito
Lima
- O negócio está difícil, caixeiro viajante é coisa do passado, o povo só
quer comprar nos Shoppings no embalo da propaganda na televisão, cartão de
crédito facilitado, não dá para concorrer, vou mudar de ramo, abrir comércio no
interior.
Dizia Gumercindo à Antônia, sua mulher,
sentados à mesa depois do jantar, ela segurando carnês atrasados, compras no
natal no crediário, balançou a cabeça respondendo.
- Você é um homem corajoso, mas tenha cuidado, só não quero perder esse
apartamento, mesmo pagando com dificuldade é o que nos resta. Se você não
tivesse pedido o PDV, ainda tinha o emprego no Estado, pouco, mas garantido -reclamava Antônia ao marido - E o que você pretende abrir no interior? Por
Nossa Senhora!
- O Barbosa, tem experiência em restaurante, ele quer montar o Bar do
Pitu às margens do Rio Paraíba onde tem muito pitu, me convidou como sócio,
numa condição eu morar no estabelecimento. Ele herdou um sítio beirando o Rio
Paraíba, vamos aproveitar os equipamentos, geladeira, fogão, do outro
restaurante, ele confia em mim.
- Gumercindo, emprego está difícil, emprego não cai do céu, só para
políticos. Tudo bem, acerte com Barbosa, cuidado com ele, é muito sabido, pode
lhe enrolar. Vou tirar um empréstimo em nome minha irmã para pagar esses
carnês, compramos muita besteira no natal.
Durante o fim de semana partiram no
velho fusca, conhecer o sítio à beira do Paraíba. Muitas frutas, legumes
plantados, criação de galinhas, o pai de Barbosa conservava o local, era a vida
dele. A casa grande com cinco quartos, sala, varanda, cozinha, banheiro.
Programaram inauguração para duas semanas, um sábado.
Fizeram propaganda na cidade, letreiros
na estrada. Dia da inauguração, sucesso total, todos gostam de novidades,
bebida e comida muito boa, local discreto. No final da festa os sócios
comemoraram.
O tempo passando, Gumercindo morando no
sítio, na segunda-feira retornava à capital, levava algum dinheiro da
sobrevivência, o negócio não era tão rentável como se pensava, passaram-se
quatro meses.
Depois do São João, Gumercindo apareceu
satisfeito da vida, melhoras nos negócios, mais dinheiro. Dona Antônia guardou
um pouquinho pela primeira vez na vida de casada, assim foram as semanas
seguintes, o lucro aumentando em época de crise, as esposas dos sócios
satisfeitas. Antônia, prudente, desconfiada, perguntava o que estava havendo,
aquele progresso repentino, o movimento aumentou, tem droga ou mulher no
negócio? Gumercindo. Ele apenas respondia, o Bar do Pitu pegou fama, é
conhecido em toda Zona da Mata, os fazendeiros gostam, gente rica.
Certo sábado Antônia pediu ao irmão para
levá-la ao Bar do Pitu, visita surpresa ao esposo, dormiriam por lá, muitos
quartos, sítio enorme. Saíram os dois irmãos estrada afora, com duas horas e
meia avistaram o BAR DO PITU, ao se aproximarem ouviram música, no quintal
vários carros, movimento ótimo, Antônia desconfiou, alguma coisa no ar,
diferente. Ao estacionar avistaram Gumercindo numa mesa conversando com amigos
e amigas. Ao ver Antônia ele levantou-se, discretamente aproximou-se da esposa,
puxou-a, sentaram-se a uma mesa.
- Antônia, eu estava para lhe confessar, o negócio não estava dando
certo, até que veio a ideia, transformamos o Bar do Pitu em cabaré.
Ela surpresa, irada, desvencilhou-se do
marido, entrou na casa, alguns casais dançando no embalo da música sertaneja,
decoração em luz vermelha. Gumercindo sentou-a numa poltrona, Antônia fechou os
olhos, respirou fundo, pensou, continuou calada. Levantou-se, passou a vista em
toda casa. Chamou o esposo, retornaram a uma mesa no quintal, ele, surpreso,
ouviu:
- Antônio você encontrou sua profissão, gerente de cabaré. Pode ficar
tranquilo, levando dinheiro para casa é que me interessa.
O Bar do Pitu pegou fama, a mais antiga
das profissões continua em alta no Brasil, o único negócio sem recessão. A
freguesia aumenta cada dia.
Hoje, Dona Antônia, satisfeita da vida,
dinheiro na poupança, todo fim de semana vai dar uma mãozinha no caixa do
cabaré do marido, o famoso Bar do Pitu, pensando em abrir filial na capital.
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