Texto de Carlito Lima
Dona
Mercedes morreu no dia que completou 51 anos de casada. O Coronel Eustáquio
enterrou a esposa na Fazenda Olho D'água das Flores, aonde passaram suas vidas
com muito trabalho, amor e carinho. Era mulher ativa, de opiniões, deixava o
marido pensar que mandava, entretanto, o Coronel fazia o que ela queria. No
último desejo, pediu ao marido para ser enterrada junto ao túmulo do filho,
embaixo de uma enorme aroeira num morrete, perto dos currais.
Assim
foi feito. Os cinco filhos vieram de Maceió e enterraram a matriarca junto ao
seu amado filho Bruno, morto aos 20 anos.
A
ausência da mulher foi um baque na vida do Coronel. Aos 72 anos ele monta toda
manhã, fiscalizando, dando ordens na fazenda, duro nas cobranças em seu
império, seu latifúndio, um extenso pasto do gado. Os filhos formados, 3
advogados, uma assistente social e uma médica. O coronel tem uma preocupação,
nenhum dos filhos, genros e netos, tem vocação para vida no campo. O filho mais
novo, Bruno, foi seu braço direito, seu orgulho, amava a fazenda, não queria
estudar, briguento, gostava de cachaça e mulheres. Morreu de queda de cavalo,
correndo bêbado uma vaquejada. Quando lembra Bruno, dá uma dor no coração de saudade,
era o filho querido, o companheiro nas andanças pela fazenda.
Depois
que Dona Mercedes morreu, o coronel Eustáquio se enclausurou na fazenda. Deixou
de ir à capital, abandonou seu apartamento na praia da Pajuçara. Nunca foi
mulherengo, entretanto, gostava de se aliviar, como dizia, com garotas de
programa arranjadas nos classificados. Depois da viuvez, nem isso mais
procurava.
No
final de ano a família reuniu-se no natal. Festa tradicional, animada com
filhos, netos, agregados e convidados. Na festa, Natália, a filha médica, notou
o coronel cansado. Exigiu fazer um checape urgente.
Edgar,
o genro, figura simpática, conversador, vende imóveis e carros, fazia tudo para
agradar ao sogro. Ofereceu-se para acompanhar o velho Coronel aos médicos.
Foram 20 dias entre consultas e exames. O doutor urologista examinou os
resultados. Depois de apalpar o ventre, pediu ao Coronel para ficar na posição
que Napoleão perdeu a guerra, fez o famoso toque retal. Constatou, próstata
volumosa e inflamada. Passou-lhe antibiótico e determinou ao Coronel, toda
semana tomar massagem na próstata, até diminuir o tamanho e acabar a
inflamação.
À
noite, a filharada e os netos foram visitá-lo em seu confortável apartamento.
Ele confidenciou aos filhos, estava constrangido com o tratamento, recusava ao
toque do médico. Seu fio-ó-fó era órgão de saída, entrada nunca. Foi
categórico, não voltava ao consultório para levar dedada, tomava apenas o
remédio.
A filha
Natália, ao dormir, conversou com o marido sua preocupação com o pai, a
massagem na próstata era necessária. Edgar homem de desembaraços e de soluções,
nunca põe dificuldades, prometeu resolver o problema.
Dia
seguinte, pela manhã, procurou o doutor urologista, acertando os detalhes de um
plano traçado no travesseiro. Contrataram uma amiga do doutor, com curso de
enfermagem, mestra em massagem na próstata, veio à calhar. Com a conivência do
doutor prosseguiu a estratégia.
Edgar
procurou o sogro levando recado do doutor, ele poderia, se quisesse, ser
atendido por uma massagista, em local especial. Depois de muito relutar, o
coronel foi conhecer a massagista, Michelle, no carro, esperando. Ficou
encantado com a beleza daquela morena simpática que lhe sorriu pecaminosamente.
Com jura do genro em não contar aos filhos, o velho se deixou levar para um
motel na praia de Jacarecica, deixou-se aos cuidados da massoterapêutica.
O que
houve ou que não houve, ninguém sabe. A próstata do coronel já curou há muito
tempo, entretanto, ele prossegue o tratamento. Fica feliz quando amanhece a
quarta-feira, vem à Maceió radiante junto com o querido genro, Edgar, dia da
massagem com a bonita massagista. Michelle, aliviou as dívidas, engorda seu
salário em R$ 400,00 toda semana, para ela o Coronel caiu do céu.
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