quarta-feira, 16 de março de 2016

A MASSAGISTA

Texto de Carlito Lima

Dona Mercedes morreu no dia que completou 51 anos de casada. O Coronel Eustáquio enterrou a esposa na Fazenda Olho D'água das Flores, aonde passaram suas vidas com muito trabalho, amor e carinho. Era mulher ativa, de opiniões, deixava o marido pensar que mandava, entretanto, o Coronel fazia o que ela queria. No último desejo, pediu ao marido para ser enterrada junto ao túmulo do filho, embaixo de uma enorme aroeira num morrete, perto dos currais.
Assim foi feito. Os cinco filhos vieram de Maceió e enterraram a matriarca junto ao seu amado filho Bruno, morto aos 20 anos.
A ausência da mulher foi um baque na vida do Coronel. Aos 72 anos ele monta toda manhã, fiscalizando, dando ordens na fazenda, duro nas cobranças em seu império, seu latifúndio, um extenso pasto do gado. Os filhos formados, 3 advogados, uma assistente social e uma médica. O coronel tem uma preocupação, nenhum dos filhos, genros e netos, tem vocação para vida no campo. O filho mais novo, Bruno, foi seu braço direito, seu orgulho, amava a fazenda, não queria estudar, briguento, gostava de cachaça e mulheres. Morreu de queda de cavalo, correndo bêbado uma vaquejada. Quando lembra Bruno, dá uma dor no coração de saudade, era o filho querido, o companheiro nas andanças pela fazenda.
Depois que Dona Mercedes morreu, o coronel Eustáquio se enclausurou na fazenda. Deixou de ir à capital, abandonou seu apartamento na praia da Pajuçara. Nunca foi mulherengo, entretanto, gostava de se aliviar, como dizia, com garotas de programa arranjadas nos classificados. Depois da viuvez, nem isso mais procurava.
No final de ano a família reuniu-se no natal. Festa tradicional, animada com filhos, netos, agregados e convidados. Na festa, Natália, a filha médica, notou o coronel cansado. Exigiu fazer um checape urgente.
Edgar, o genro, figura simpática, conversador, vende imóveis e carros, fazia tudo para agradar ao sogro. Ofereceu-se para acompanhar o velho Coronel aos médicos. Foram 20 dias entre consultas e exames. O doutor urologista examinou os resultados. Depois de apalpar o ventre, pediu ao Coronel para ficar na posição que Napoleão perdeu a guerra, fez o famoso toque retal. Constatou, próstata volumosa e inflamada. Passou-lhe antibiótico e determinou ao Coronel, toda semana tomar massagem na próstata, até diminuir o tamanho e acabar a inflamação.
À noite, a filharada e os netos foram visitá-lo em seu confortável apartamento. Ele confidenciou aos filhos, estava constrangido com o tratamento, recusava ao toque do médico. Seu fio-ó-fó era órgão de saída, entrada nunca. Foi categórico, não voltava ao consultório para levar dedada, tomava apenas o remédio.
A filha Natália, ao dormir, conversou com o marido sua preocupação com o pai, a massagem na próstata era necessária. Edgar homem de desembaraços e de soluções, nunca põe dificuldades, prometeu resolver o problema.
Dia seguinte, pela manhã, procurou o doutor urologista, acertando os detalhes de um plano traçado no travesseiro. Contrataram uma amiga do doutor, com curso de enfermagem, mestra em massagem na próstata, veio à calhar. Com a conivência do doutor prosseguiu a estratégia.
Edgar procurou o sogro levando recado do doutor, ele poderia, se quisesse, ser atendido por uma massagista, em local especial. Depois de muito relutar, o coronel foi conhecer a massagista, Michelle, no carro, esperando. Ficou encantado com a beleza daquela morena simpática que lhe sorriu pecaminosamente. Com jura do genro em não contar aos filhos, o velho se deixou levar para um motel na praia de Jacarecica, deixou-se aos cuidados da massoterapêutica.
O que houve ou que não houve, ninguém sabe. A próstata do coronel já curou há muito tempo, entretanto, ele prossegue o tratamento. Fica feliz quando amanhece a quarta-feira, vem à Maceió radiante junto com o querido genro, Edgar, dia da massagem com a bonita massagista. Michelle, aliviou as dívidas, engorda seu salário em R$ 400,00 toda semana, para ela o Coronel caiu do céu.

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