Antigamente tudo era muito mais regional. tapioca, cuscuz, rapadura, beiju, mungunzá... Eram comidas encontradas somente no nordeste.
Nesse tempo de regionalismo alimentar, os nordestinos migravam para o sudeste do país, principalmente para São Paulo, “para ganhar a vida”. Para a sua aventura em busca do sucesso, o nordestino não tinha a facilidade de transporte que tem hoje. Avião era coisa para milionários e, mesmo assim, contavam com apenas um ou dois voos diários (Sadia e Varig). Os pobres andavam era de ônibus (Empresa São Geraldo), numa viagem longa, que durava de 3 a 4 dias. Ir para o sul ou sudeste do país era a mesma coisa que ir para o fim do mundo! Quem não podia ir de ônibus, porque ainda era caro, ia de “caminhão pau-de-arara”. Por isso, quando iam viajar, visitavam a casa de todos os parentes para as despedidas de praxe.
Quando voltavam, chegavam “metidos a bestas”, usando óculos escuros, estilo ray-ban, para causar a impressão de “estar bem de vida”, embora estivessem comendo o pão que o diabo amassou. Gostavam de reunir os amigos e, com “voz paulista”, narravam, recheado de fantasia e mentiras, como era a vida na cidade grande.
Vamos ao causo de hoje:
Nos anos 60, o meu primo Alexandre Gaia (já falecido), foi embora para o Rio de Janeiro estudar e trabalhar. Mas, como a casa dos pais é o melhor lugar do mundo, anos depois ele voltou para Palmeira dos Índios. Tão logo ele regressou o meu pai lhe ofereceu um jantar, para que ele nos contasse como era vida na Cidade Maravilhosa. Leme, Copacabana, Urca, Maracanã...
Lembro-me bem...
Na hora do jantar, assim que a mamãe colocou um cuscuz na mesa, Alexandre indagou, com aquele sotaque meio-carioca:
- Ô, tia, que comida é esta?
Papai, “mais grosso do que papel de embrulhar pregos”, não perdeu a viagem:
- Seu cabra, chega de frescura! Você passou a vida toda aqui, morando na roça, foi criado comendo cuscuz com leite e agora, só porque passou um tempinho no Rio de Janeiro, já está metido a besta!
Fim do jantar... Nesta noite, ninguém, lá em casa, soube como era o Rio de Janeiro.
Ao meu primo, Alexandre, com quem convivi certa época, minhas saudades. Sem sombra de dúvidas, um dos homens de bem que já conheci.
Nenhum comentário:
Postar um comentário