sexta-feira, 4 de março de 2016

DE VOLTA PRO SEU ACONCHEGO

Texto de Aloisio Guimarães

Hoje em dia, em qualquer cidade de porte médio, é fácil encontrar alimentos de qualquer região do país ou do mundo.
Antigamente tudo era muito mais regional. tapioca, cuscuz, rapadura, beiju, mungunzá... Eram comidas encontradas somente no nordeste.
Nesse tempo de regionalismo alimentar, os nordestinos migravam para o sudeste do país, principalmente para São Paulo, “para ganhar a vida”. Para a sua aventura em busca do sucesso, o nordestino não tinha a facilidade de transporte que tem hoje. Avião era coisa para milionários e, mesmo assim, contavam com apenas um ou dois voos diários (Sadia e Varig). Os pobres andavam era de ônibus (Empresa São Geraldo), numa viagem longa, que durava de 3 a 4 dias. Ir para o sul ou sudeste do país era a mesma coisa que ir para o fim do mundo! Quem não podia ir de ônibus, porque ainda era caro, ia de “caminhão pau-de-arara”. Por isso, quando iam viajar, visitavam a casa de todos os parentes para as despedidas de praxe.
Quando voltavam, chegavam “metidos a bestas”, usando óculos escuros, estilo ray-ban, para causar a impressão de “estar bem de vida”, embora estivessem comendo o pão que o diabo amassou. Gostavam de reunir os amigos e, com “voz paulista”, narravam, recheado de fantasia e mentiras, como era a vida na cidade grande.
Vamos ao causo de hoje:
Nos anos 60, o meu primo Alexandre Gaia (já falecido), foi embora para o Rio de Janeiro estudar e trabalhar. Mas, como a casa dos pais é o melhor lugar do mundo, anos depois ele voltou para Palmeira dos Índios. Tão logo ele regressou o meu pai lhe ofereceu um jantar, para que ele nos contasse como era vida na Cidade Maravilhosa. Leme, Copacabana, Urca, Maracanã...
Lembro-me bem...
Na hora do jantar, assim que a mamãe colocou um cuscuz na mesa, Alexandre indagou, com aquele sotaque meio-carioca:
- Ô, tia, que comida é esta?
Papai, “mais grosso do que papel de embrulhar pregos”, não perdeu a viagem:
- Seu cabra, chega de frescura! Você passou a vida toda aqui, morando na roça, foi criado comendo cuscuz com leite e agora, só porque passou um tempinho no Rio de Janeiro, já está metido a besta! 
Fim do jantar... Nesta noite, ninguém, lá em casa, soube como era o Rio de Janeiro.
Ao meu primo, Alexandre, com quem convivi certa época, minhas saudades. Sem sombra de dúvidas, um dos homens de bem que já conheci.

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