Texto de Carlito Lima

Na
maturidade, preservou o sentimento religioso conformista. Tudo que acontece,
seja bom ou mal, para ele são os desígnios de Deus. Sua mulher Iolanda, depois
de 35 anos de casados, dois filhos encaminhados, funciona na prática uma irmã e
amiga, cuida bem do marido e da casa, mas não se cuida, já ultrapassou os 121
quilos. Mais de três anos sem sexo completaram o casal.
Com
todos predicados religiosos, Raimundo não é o santo que se parece; tem seus
pecados. Gosta de uma garota de programa em alguma tarde. Ele tem uma agenda
confidencial com a relação de amigas que lhe prestam serviços agradáveis. Uma
vez na semana telefona para alguma.
Certa
tarde Raimundo estava dirigindo pela orla de Pajuçara para refestelar sua alma,
olhando o verde-azulado do mar. Ao longe ele avistou uma mulher num ponto de
ônibus, pedindo carona com a mão. O cearense parou o carro adiante, a moça se
aproximou perguntando:
- Vai até o Hotel Jatiúca?
Ele
abriu a porta e a bonita jovem já foi sentando, cruzou as belas pernas mal
encobertas pela minissaia. Deu uma sensação de fervor nas veias de
Raimundo. Puxou conversa até chegar no
Hotel. Michelle, antes de dar o número do telefone pedido, se ofereceu:
- Você foi tão gentil, não quer um
agradecimento logo adiante na praia de Cruz das Almas?
O
coroa ficou entusiasmado pela aventura inesperada. Seria coisa rápida, disse
ela. Nosso amigo, empolgado, estacionou o carro embaixo dos coqueiros perto a
outros carros que ali estavam enquanto os ocupantes se dedicavam ao amor
vespertino. Michelle pediu para ele se dirigir mais adiante, num local mais
ermo. Raimundo atendeu, estacionou o carro num local mais deserto no meio do
coqueiral.
O
cearense ficou encantado com a habilidade da jovem quando acabou a função. De
repente, Raimundo ouviu um “toc-toc”
no vidro do carro, ao olhar de lado havia um cano de revólver apontando, e uma
voz mandando abrir o vidro. Eram três meliantes. Colocaram o casal no banco
traseiro, deram a partida, um dos meliantes tinha um revólver na mão direita e
alisava o cabelo de Michelle com a esquerda. Rumaram pelo litoral norte. Nos
arredores da praia mais deserta, o motorista estacionou, era tarde, estava
escurecendo.
Os
assaltantes mandaram os dois descerem, cataram dinheiro, carteira, cartão, tudo
que podia. Um dos meliantes obrigou Michelle a fazer o que ela já havia feito
com Raimundo. Os outros dois bandidos barbaramente estupraram Raimundo por trás
de uma moita. Deixaram o cearense sozinho na praia. Levaram o carro e a moça.
Foi
um pesadelo para nosso herói, a região ficou dolorida. Andou até um povoado, de
lá tomou um táxi, foi para casa. Contou a sua mulher sobre o assalto, prestou
queixa à Polícia, omitiu o detalhe da jovem e do estupro.
No dia
seguinte pela manhã recebeu a boa notícia: tinham encontrado o carro abandonado
na fronteira de Pernambuco. O carro estava intacto. Raimundo providenciou as
segundas vias dos documentos. Só teve um problema: toda noite sonhava com o
estupro e gostava no sonho. Teve a ideia de procurar um médico, fazer análise.
Depois de algumas seções, ouvindo a história do estupro e dos sonhos noturnos,
o médico psiquiatra concluiu que sua sexualidade é ambígua, ou seja, Raimundo é
bissexual.
O
coroa cearense continua com suas garotas de programa, mas agora variando com
menininhos para aliviar seus sonhos. Não teve coragem de contar a história
verdadeira ao padre no confessionário. Mas em seus pensamentos e devaneios se
justifica, ele ser bissexual faz parte dos desígnios de Deus. Raimundo é um
convicto conformista.
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