
Em Maceió houve um trabalho organizado contra as doenças venéreas. O
Ministério da Saúde enviou remédios. Surgiram as camisinhas. O Governo repassou
verba para uma campanha de prevenção.
O ponto mais visado foi o bairro boêmio de Jaraguá onde as moças exerciam
seu trabalho. Naquela época as melhores mulheres frequentavam os casarões da
Rua Sá e Albuquerque, as mais baratas ficavam no baixo meretrício, o Duque, o
Verde e o Sovaco do Urubu, onde hoje é o Centro de Convenções.
Primeira providência, todas as prostitutas passaram por rigoroso exame.
O Posto de Saúde da Praça das Graças se encheu de cafetinas e pupilas na fila
dos exames, tiravam a carteirinha de serviço com data de exame carimbado, havia
espaço para notificar as revalidações.
A procura foi tão grande que abriram outro ponto de exame na Delegacia
de Jaraguá, o delegado da época, Sargento Sobral, se empenhou na campanha com
muito zelo. Como autoridade da região, o sargento-delegado fazia ronda diária
fiscalizando se todas as operárias do sexo tinham suas carteirinhas carimbadas,
exame em dia.
Constatando alguma doença transmissível a jovem era obrigatoriamente
internada no Hospital de Doenças Tropicais para tratamento até sarar. Depois da
cura podia voltar à atividade, ao trabalho.
Nos quartos das pensões foram colocados cartazes preventivos: “EXIJAM A
CARTEIRA PROFISSIONAL DE SAÚDE”. Alguns clientes se constrangiam em exigir a
carteira das raparigas, pegaram doenças por conta disso. Essas carteiras eram
atualizadas no Posto Avançado da Erradicação de Jaraguá, com médicos fazendo
novos exames diários e indicando o tratamento adequado se fosse o caso.
A atuação do Sargento Sobral foi fundamental nos serviços da
erradicação. Onde havia alguém com suspeita de doença, ele mandava buscar para
rigorosa investigação.
Foi formada uma rede de informações em vários cabarés. As moças
recusavam fregueses quando suspeitavam que eles estavam infectados. Muitas
davam parte na delegacia, entregando o cliente. O delegado levava os acusados
para o posto em nome da lei, sob a custódia de seus auxiliares.
Cidadãos da mais alta sociedade constrangeram-se em serem levados por
policiais ao Posto Avançado de Jaraguá a fim de serem examinados. Não tinha
acordo com o delegado. Geralmente essas denúncias eram fundamentadas e o
delegado, além de dar uma bronca no doente fazia verdadeiras investigações
policiais com os “criminosos” para
descobrir a pessoa que transmitiu a doença, e quem transmitiu a essa pessoa.
As investigações eram constantes. Chamava as pessoas transmissoras da
doença, citado pelo doente, até chegar aos sadios. O Sargento Sobral obrigava a
todos os envolvidos serem tratados adequadamente pelos médicos, baixando ao Hospital
nos casos precisos.
Houve até problemas conjugais. O zeloso delegado chegou a enviar esposas
dos contaminados para exames específicos. Alguns suspeitos se livravam
confessando ter se contaminado no Recife. Se acaso "entregassem" quem passou a doença, podia ser quem fosse, o
delegado ia pessoalmente buscá-la para os devidos exames. Como geralmente o
suspeito estava também infectado, obrigava a confessar a quem mais ela havia
transmitido e com quem havia pegado a doença até chegar no final do novelo.
Em uma dessas investigações, Gerusa, uma das meninas mais queridas da
Boate Alhambra, promíscua, apareceu doente. O delegado a fez relacionar todos
os parceiros da última quinzena. Na relação, havia gente conhecida, inclusive
um capitão do Polícia e um deputado. O delegado chamou todos os clientes de
Gerusa, via carta entregue em mãos, para que fossem devidamente examinados e
tratados. Mas, teve deferência especial com o deputado e o capitão. Foi
pessoalmente à Assembleia Legislativa e à Polícia Militar, juntamente com o
médico, para que essas autoridades fossem examinadas. Foi constatado que as
duas autoridades estavam sadias. O trabalho imprescindível do zeloso Sargento
Sobral conseguiu erradicar as doenças venéreas da cidade trazidas pelos soldados
americanos.
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