domingo, 6 de maio de 2018

O CARONA

Texto de Aloisio Guimarães

Este causo é dos tempos da saudosa Faculdade de Engenharia.
Maceió, hoje é uma cidade de porte médio, mas, nos anos 70, era uma cidade pequena, calma, onde podíamos andar a qualquer hora do dia ou da noite. Com certa dose de exagero, podemos dizer que todos se conheciam!
Naquela época, a Cidade Universitária, localizada entre o Aeroporto e o centro da cidade de Maceió, era recém-construída. Era um lugar longe e totalmente isolado, sem os vários conjuntos habitacionais que hoje a rodeiam. O isolamento era tanto que, por falta de passageiros, existia apenas uma linha de ônibus (Empresa São Luiz, hoje extinta), de frequência irregular, para o transporte dos estudantes.
Como ainda não existiam assaltos, os universitários se valiam muito mais das caronas dos colegas e também daquelas conseguidas às margens da rodovia BR-101, do que do transporte coletivo.
No Departamento de Matemática, um dos professores que ensinavam Álgebra Linear era o Professor Gusmão, uma figura estranha e de traço irlandês (barba e cabelos ruivos). Era um conhecido sovina! Só para ter uma ideia, nem ao seu pai, já idoso e também professor universitário, o cara dava carona. O seu pai, já velho e cansado, na maioria das vezes, viajava de ônibus, em pé, imprensado no meio dos passageiros...
Aos estudantes, o professor Gusmão, como forma de negar carona, sempre dizia que ia para o lado oposto do local onde eles queriam ir. Sabendo disso, decidimos que seria uma questão de honra pegar carona no carro dele! Para isso, bolamos um plano simples e infalível, fazendo com que ele respondesse exatamente a direção que queríamos:
Certo dia de inverno, muito chuvoso, estava no ponto de ônibus, juntamente com Moisés (já falecido) e Renato Américo. Em determinado instante, avistamos o professor Gusmão entrando no seu Del-Rey - na época, era o automóvel sensação e considerado carro de rico! Quando ele foi se aproximando do local onde estávamos. fizemos sinal, pedindo que ele parasse. Para nosso grande espanto, o cara parou!
- Professor, o senhor vai para o aeroporto? - Perguntou, maliciosamente, o Moisés.
- Não, vou para Maceió. - Respondeu o professor, apontando, como sempre uma direção oposta para onde os alunos perguntavam.
- Ótimo, porque é para lá que nós vamos mesmo! - Disse o Moisés, já abrindo a porta do carrão.
O professor, puto da vida, não teve alternativa a não ser carregar os "três malas", mas ele conseguiu se vingar. E que vingança!
No meio do percurso, ele indaga:
- Que cursos vocês fazem?
- Engenharia Civil... - Respondeu o Moisés.
- É?! Então vou dar um conselho: estudem muito, para que um dia vocês possam comprar um carrão como este...
O Moisés, que poderia ter ficado de bico calado, respondeu, na bucha, querendo sacanear com o professor, por todas as caronas anteriormente negadas:
- Mas, professor, estudar tanto para ter uma merda de um carro como este...
O professor Gusmão não perdeu a viagem: freou imediatamente o carro, abriu a porta e simplesmente disse:
- Desçam!
Por culpa da língua do Moisés, ficamos no meio do nada e na chuva.
Como todas as universidades adotavam o chamado "Regime de Créditos", pelo sim pelo não, evitamos estudar Álgebra Linear no período seguinte.

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