quarta-feira, 20 de junho de 2012

O PAPA-FIGO

Texto de Aloisio Guimarães

Na realidade o nome correto seria "Papa-fígado". O erro fica por conta da ignorância do matuto nordestino.
Talvez, várias histórias, como as de “Papa-figo”, tenham surgidas da cabeça dos pais, querendo, através do medo, disciplinar a vida dos filhos, fazendo com que eles ficassem sempre em casas ou que voltassem cedo para casa, quando saíssem para a rua. E olhem que, quando éramos crianças, não existia toda essa violência dos dias atuais.
- E que diabo era o "Papa-figo"?
- O "Papa-figo" seria um sujeito idoso, barba branca, que sequestrava as crianças e arrancava-lhes o fígado para comer!
Antigamente as crianças tinham medo de tudo porque nada sabiam e nada conheciam. Não existia internet, nem televisão, nem celular... Assim, todas as vezes que surgia um boato como esse era difícil encontrar uma criança na rua.
O meu irmão Casé não fugiu à regra: o seu maior medo era do "Papa-figo"!
Vamos ao causo:
Certo dia o meu pai mandou o Casé ir comprar bebidas, no Armazém do “Seu” Mancinho, que ficava na Praça do Açude, para abastecer "O Senadinho" (nosso bar).
O Casé encheu o “carrinho de mão” com garrafas vazia e foi comprar as tais bebidas...
Minutos depois, quando a gente menos espera, chega o Casé, “mais branco do que folha de papel ofício”, sem nada das bebidas que tinha ido comprar e pede um copo com água, dizendo que estava morrendo de sede.
E não é que o cara tinha abandonado o "carrinho de mão" na rua, com as garrafas e dinheiro da compra dentro e vindo tomar água?! Ainda bem que naquele tempo não tinha tanto ladrão... Se ele perde o dinheiro, levaria uma surra daquelas!
Pois bem, apesar de receber a água, ele não tomava nenhuma gota do líquido e não deixava de ficar olhando para a rua.
Ficamos curiosos com a atitude do Casé...
Minutos depois, passa um senhor, de barba branca, na calçada oposta. E Casé olhando... Assim que o velho acabou de passar, o Casé, sem dizer nada e sem tomar água nenhuma, saiu em disparada para ir recuperar o carrinho de mão e comprar as bebidas que meu pai tinha mandado.
À noite soubemos do boato de que tinha um "Papa-figo" em Palmeira dos Índios.
Foi aí que matamos a charada na hora: o Casé já sabia deste boato e pensado que o velho que ele tinha visto era o tal "Papa-figo" que estava na cidade, tinha corrido com medo dele.
Foi assim que, durante muito tempo, o Casé foi sacaneado por todos nós. Assim todas as vezes que ele ia comprar bebidas, a gente logo dizia:
- Casé, cuidado com o “Papa-figo”!
É lógico que ele ficava “puto da vida”!
Hoje, quando relembramos o causo, o Casé, filosoficamente, sentencia:
- Meu irmão, hoje os tempos mudaram, o “Papa-figo” é que tem medo de criança, porque eles não respeitam nem pai e nem mãe!
 

Um comentário:

  1. Cresci com esta história e aparentemente funcionava, pois naquela época obedecíamos, não só aos nossos pais, como também aos nossos avós.
    Tinha também uma outra história, que era da cobra bem fina, tão fina, que parecia uma linha e quando pisássemos nela, ela ficaria tão grande que nos engolia ... e assim, muitas vezes tínhamos medo de sair principalmente no sítio do vovô Floriano Peixoto de Melo Lins.

    Como não acertei colocar o meu nome através destas opções do perfil, coloco aqui: ERICKSSON TADEU

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