ENGENHEIRO-AGRÔNOMO E ESCRITOR
O ponto mais importante de uma Cidade, sobretudo no Nordeste, é a sua
feira. O primeiro “shopping center” que se tem notícias e possivelmente
inspirador dos Americanos em sua capacidade de ganhar com a edificação
de complexas estruturas de cimento abrigando lojas de diversas matizes.
O do meu interior (Coruripe, AL) é a céu aberto, com um galpão para
abrigar certos produtos, a exemplo de carnes e farinha. Alguns feirantes com
pequenas toldas e a maioria no chão mesmo, espalhando os seus cultivos trazidos
das roças.
Dois aspectos importantes. O primeiro se refere ao estímulo ao pequeno
produtor rural que dispõe de um lugar para comercializar os seus produtos. Em
segundo, a importância para o pobre, adquirindo alimentos e outras necessidades
sem o famigerado código de barras.
Fico pasmo ao ver pessoas carentes comprando nos supermercados pagando
altos impostos, pela falta de uma feira.
Ao invés dos saquinhos já pesados e etiquetados, a cuia e a balança
suspensa para mensurar o quanto de feijão, de farinha, de açúcar, dentre outros
gêneros se deseja adquirir.
Poder-se-ia agregar um terceiro: ponto de encontro de toda a sociedade,
todos dependentes da humilde feira. A carne verde como era chamada à época só
era vendida aos sábados e justamente na feira, bem como galinhas e carne de
porco.
Não se pode esquecer as trocas e os negócios efetuados, incluindo vendas
de muares.
Lembro-me da variedade de produtos: farinha, arroz, feijão, fava, milho,
frutas diversas, farinha d’água, malcasados, bolos de todos os tipos, amendoim,
cebola, alho, macaxeira, inhame, abóbora, caldo de cana, cana caiana, roupas de
alvorada como dizia Luiz Gonzaga, brinquedos de madeira, galinhas, porcos,
passarinhos, camas, esteiras de piripiri, colchões de sapé, licor de jenipapo,
bolsas de palha de Ouricuri, graviola, ovos, peixes, carne do sol, coco seco,
pilombetas (peixinhos secos vindo de Piaçabuçu), fifós (candeeiros), cintos,
cangalhas, jumentos.
Hoje, 60 anos depois, ela subsiste, ampliou-se e até se sofisticou, mas
ainda mantém a cara de dantes. Só uma constatação triste: mais de 50% dos
produtos vem da CEASA, Maceió, significando a debacle da pequena produção de
grãos, frutas, aves, raízes e tubérculos pelo açúcar e pelo álcool.
Não houve uma política de governo voltada ao zoneamento agrícola que
protegesse as pequenas propriedades e, tampouco, os respectivos estímulos à
produção de alimentos e de pequenos animais.
Como era bonito ver os humildes rurais trazendo em caçuás os produtos,
literalmente frutos do seu labor, da sua competência, do seu “ganha pão”!
Quando vou a Coruripe sempre o faço em dias de feira. Aliás, o bom
Agrônomo deve frequentar as feiras para observar os produtos, conversar com os
produtores e saber das preferências de consumo.
Assim como eu, meu amigo Zenalvo, aposentado do Banco Nordeste, que
possui uma casa de veraneio na Lagoa do Pau, é também um apologista feirante.
Não é que, de vez em quando, ele se acomoda numa tolda e se regala com uma
galinha gorda, nadando no óleo, lá na feira de Coruripe!
Para os de fora aquilatarem o que aqui foi explanado, nada melhor que
Luiz Gonzaga, em seu linguajar nordestino, exaltando a feira de Caruaru:
A Feira de Caruaru,
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra vendê,
Na feira de Caruaru.
Tem massa de mandioca,
Batata assada, tem ovo cru,
Banana, laranja, manga,
Batata, doce, queijo e caju,
Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru,
Tem bode, carneiro, porco,
Se duvidá... inté cururu.
Tem cesto, balaio, corda,
Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu,
Tem fumo, tem tabaqueiro,
Feito de chifre de boi zebu,
Caneco acuvitêro,
Penêra boa e mé de uruçú,
Tem carça de arvorada,
Que é pra matuto não andá nú.
Tem rêde, tem balieira,
Mode minino caçá nambu,
Maxixe, cebola verde,
Tomate, cuento, couve e chuchu,
Armoço feito nas torda,
Pirão mixido que nem angu,
Mubia de tamburête,
Feita do tronco do mulungú.
Tem loiça, tem ferro véio,
Sorvete de raspa que faz jaú,
Gelada, cardo de cana,
Fruta de paima e mandacaru.
Bunecos de Vitalino,
Que são cunhecidos inté no Sul,
De tudo que há no mundo,
Tem na Feira de Caruaru.
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