ENGENHEIRO-AGRÔNOMO E ESCRITOR
O tempo urge e a gente envelhece. Não se fica para semente,
apenas se deixa genes. A morte é inexorável e deste mundo ninguém escapa. Pode
ser até um consolo, mas o que seria da vida se ela não existisse. Não teria
sentido e, tampouco, projetos a executar, tornando a nossa existência sem graça
e até monótona.
É o Time do Tempo: invencível, implacável, cruel.
Uns cumprem o ciclo da existência atingindo a senilidade.
Outros, por diversas circunstâncias, morrem antes do combinado. No fundo mesmo
o nosso objetivo é ser velhos, cumprindo a validade que a natureza nos
carimbou.
O importante é sermos veículos dos nossos genes e dos
ensinamentos dos nossos pais, contribuindo para a melhoria da raça humana
através de atos éticos e dignos. Se assim procedermos, não morreremos jamais.
Apenas, nos encantamos.
Pela falta de consciência das pessoas ou não aceitação dos
ciclos da vida, de repente alguém empreende a sua viagem estelar e, numa fração
de segundo vira um incômodo, mesmo que tenha tido uma vida profícua de tantos
anos. A não ser que vire Santo!
Por esta razão, quando eu morrer:
· Não quero choro, pois
é difícil se distinguir o da saudade do da hipocrisia;
· Não quero velas por
não representar a luz e sim a morte lacrimejante;
· Não quero fotos
amareladas nas paredes provocando arrepios ou assombrações às pessoas medrosas
e ignorantes sobre os ciclos da vida;
· Não quero, ao falarem
no meu nome que me vejam como um fantasma ameaçador: “que Deus o tenha”; “Deus
te chame lá que não te quero cá” ou disfarçam se benzendo;
· Não quero visitação ao
meu túmulo, pois cemitério nada mais é que um lixão e, o pior, não reciclável;
· Não quero flores que,
abandonadas sob um sol escaldante, murcham, deixando marcado no semblante das
pessoas a mesma tristeza da sua rápida decadência;
· Não quero ser
comparado a ninguém, sobretudo aos descendentes nas suas imperfeições,
geralmente atribuídas à herança do avô, pois nunca se credita a ele as boas
ações daqueles;
· Não quero que
acreditem no que falam a meu respeito antes de identificar o que realizei de
proveitoso, de fato;
· Não quero de repente
virar bonzinho ao impacto da morte que todos temem e procuram compensar; e
· Não quero comoção no
dia, muita gente no sétimo, muitos sem tempo no trigésimo e esquecimento total
ao completar 1 ano.
Quero isso sim:
· Ser lembrado por
marcas deixadas com algo de bem e não pelos defeitos comuns de todos nós.
· Caso tenha deixado
bens materiais, que sejam visto como de alto valor pela maneira como foi
conquistado - esforço, trabalho, honestidade e ética - e não pelo usufruto
pecuniário.
· E às crianças, não
quero que sejam enganadas pelos adultos de que fui para o céu, mas que comece a
lhes conscientizar em linguajar adequado, o sentido da existência, incluindo a
morte, desfecho final do ciclo biológico da vida.
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