segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O TIME DO TEMPO

Texto de Luiz Ferreira da Silva
ENGENHEIRO-AGRÔNOMO E ESCRITOR

O tempo urge e a gente envelhece. Não se fica para semente, apenas se deixa genes. A morte é inexorável e deste mundo ninguém escapa. Pode ser até um consolo, mas o que seria da vida se ela não existisse. Não teria sentido e, tampouco, projetos a executar, tornando a nossa existência sem graça e até monótona.
É o Time do Tempo: invencível, implacável, cruel.
Uns cumprem o ciclo da existência atingindo a senilidade. Outros, por diversas circunstâncias, morrem antes do combinado. No fundo mesmo o nosso objetivo é ser velhos, cumprindo a validade que a natureza nos carimbou.
O importante é sermos veículos dos nossos genes e dos ensinamentos dos nossos pais, contribuindo para a melhoria da raça humana através de atos éticos e dignos. Se assim procedermos, não morreremos jamais. Apenas, nos encantamos.
Pela falta de consciência das pessoas ou não aceitação dos ciclos da vida, de repente alguém empreende a sua viagem estelar e, numa fração de segundo vira um incômodo, mesmo que tenha tido uma vida profícua de tantos anos. A não ser que vire Santo!
Por esta razão, quando eu morrer:
· Não quero choro, pois é difícil se distinguir o da saudade do da hipocrisia;
· Não quero velas por não representar a luz e sim a morte lacrimejante;
· Não quero fotos amareladas nas paredes provocando arrepios ou assombrações às pessoas medrosas e ignorantes sobre os ciclos da vida;
· Não quero, ao falarem no meu nome que me vejam como um fantasma ameaçador: “que Deus o tenha”; “Deus te chame lá que não te quero cá” ou disfarçam se benzendo;
· Não quero visitação ao meu túmulo, pois cemitério nada mais é que um lixão e, o pior, não reciclável;
· Não quero flores que, abandonadas sob um sol escaldante, murcham, deixando marcado no semblante das pessoas a mesma tristeza da sua rápida decadência;
· Não quero ser comparado a ninguém, sobretudo aos descendentes nas suas imperfeições, geralmente atribuídas à herança do avô, pois nunca se credita a ele as boas ações daqueles;
· Não quero que acreditem no que falam a meu respeito antes de identificar o que realizei de proveitoso, de fato;
· Não quero de repente virar bonzinho ao impacto da morte que todos temem e procuram compensar; e
· Não quero comoção no dia, muita gente no sétimo, muitos sem tempo no trigésimo e esquecimento total ao completar 1 ano.
Quero isso sim:
· Ser lembrado por marcas deixadas com algo de bem e não pelos defeitos comuns de todos nós.
· Caso tenha deixado bens materiais, que sejam visto como de alto valor pela maneira como foi conquistado - esforço, trabalho, honestidade e ética - e não pelo usufruto pecuniário.  
· E às crianças, não quero que sejam enganadas pelos adultos de que fui para o céu, mas que comece a lhes conscientizar em linguajar adequado, o sentido da existência, incluindo a morte, desfecho final do ciclo biológico da vida.  

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