A
Ditadura tem, sem dúvidas, raízes profundas dentro do homem. Nasce talvez do
alto conceito que cada um tende a ter cerca de si mesmo o que o leva, de algum
modo, a subjugar os outros homens.
Não é um
mal existente apenas em certos “homens maus” que a vida gerou para desgraça dos
outros, mas sim algo que existe dentro de todos nós. É uma manifestação
exacerbada de egoísmo por parte de um homem, de uma mulher, que, de algum modo,
chegou a ter qualquer espécie de poder.
Há por
aí muitos pequenos ditadores que, não podendo ter um raio de ação maior, exercem
essa função apenas do seu pequeno mundo. O veneno dessa semente maligna tem
espalhado o sofrimento por todo quanto sítio, desde o lar à empresa, desde à
família à nação.
Acontece
que a maior parte dos ditadores não sai nos jornais, porque recebeu pouco
poder...
Existe
em cada um de nós um ditador, que se manifesta quando queremos pôr em prática
os nossos desejos, não olhando a meios; quando estamos dispostos a pisar quem
quer que seja com o fim de cumprimos a nossa vontade, quando os outros deixam
de contar as coisas para nós ou se, por acaso, achamos que estorvam a
concretização dos nossos planos ou a nossa realização pessoal. Sendo assim, a
democracia não é um remédio para a ditadura.
A
democracia, que talvez nem sequer exista na realidade, não passa de um sistema
que poderia facilitar que não houvesse ditadores, se não fossem manuseados por
homens. É que ainda ninguém curou o coração dos homens. O único remédio que
está ao nosso alcance, já que não é possível eliminar a semente de destruição: Consiste
em tornar o homem capaz de dominar, entre outras coisas, o impulso que o leva a
subjugar os outros. É uma doença crônica que não se pode eliminar, mas que se
pode controlar.
Acontece
que muitas das nossas crianças estão precisamente a ser educadas para
ditadores. Levados por um desejo grande de as vermos felizes, ansiando ver nos
seus rostos aqueles sorrisos que são a luz das nossas casas, cometemos
verdadeiros disparates educativos e contribuímos para que se transformem nada
mais nada menos do que em pequenos monstros ditadores potencial. Cumprimos seus
desejos, quando não devíamos fazer; quando a nossa cedência não é benéfica para
eles. Basta-lhes por vezes, fazer uma birra, chorar um pouco, insistir mais
vezes, para terem aquilo que pediam. Muitas vezes recusam-se a obedecer aos
professores, por exemplo, ou a aceitar as regras de um jogo feito com os
companheiros, porque estão acostumados a mandar... Lá em casa, o erro que elas cometem
é tão parecido com uma virtude que mal reparamos nele.
Devíamos
entender que o caminho para a felicidade não passa por ter todas as exigências satisfeita,
todos os desejos cumpridos. Muito pelo contrário: é preciso ensinar-lhes a
renúncia e o domínio de si mesmos; torná-los capazes de viverem com o facto
inevitável de que a vida não é plenamente moldável aos nossos gostos e
capricho; fazer-lhes ver que nós é que devemos adaptar-nos, em larga medida, a
vida e aos modos de ser das outras pessoas.
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