Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
Diante dos fatos escabrosos que se repetem, cada vez com mais
intensidade no nosso cotidiano, ao discuti-los, sempre repito aos os meus
interlocutores: nós éramos felizes e não sabíamos! Aí, começo a fazer diversas
comparações dos tempos idos com esse atual. Naquela época, que não está tão
distante assim, tínhamos uma série de direitos que hoje não temos mais. Se
prestarmos um pouquinho de atenção, descobriremos que muitas dessas perdas
foram decorrentes do nosso sequencial, mesquinho e hipócrita processo político.
Ao enumerar alguns, tentarei fazê-lo de forma crescente.
Maceió só era habitada até o bairro do Tabuleiro dos Martins; a nossa
educação pública básica tinha uma excelente qualidade e era frequentada por
pobres e ricos; ao concluir o curso primário, num grupo escolar público, as
crianças eram submetidas à um rigoroso exame de admissão ao ginásio; concluído
o 2º grau, os jovens prestavam um vestibular sério, e só ascendia ao ensino
superior aqueles realmente preparados; a droga era somente a maconha, e os
maconheiros nós contávamos nos dedos; todos tinham uma família equilibrada,
independente de condição social; a música era para ser escutada, e, mesmo as
dirigidas para a classe mais baixa, podia ser ouvida e escutada por todos; as
praças eram importantes áreas de lazer
para as famílias; o homossexualismo já existia, mas, era praticado entre “quatro
paredes, sem exibicionismos e nem publicidade; a televisão ainda não ousara
tomar conta das nossas vidas; os assaltos que nós conhecíamos, eram apenas
festinhas inocentes nas casas dos amigos; armas de fogo, só víamos nos filmes
de bang, bang, nos cinemas; menores eram crianças inocentes e não tinham acesso
à esbórnia; no São João só ouvíamos músicas da época; o carnaval era comemorado
nos quatro dias, nas ruas e nos clubes, com frevos e marchinhas; as festas de
Natal eram realizadas, respeitando a nossa cultura, na praça do “pirulito”, ou, na praça da
“faculdade”; tínhamos um folclore que era publicitado para todos; as famílias tinham tempo suficiente para
almoçar e jantar juntas; assassinatos nas ruas eram fatos extraordinários
somente protagonizados por integrantes
de algumas famílias que brigavam por posses; nos nossos clássicos
futebolísticos, mesmo naquela época, tendo dois clubes rivais no mesmo nível,
torcíamos em paz, e até nos misturávamos ao assistir os grandes jogos; quando o
meu querido CRB ganhava um título do rival, saíamos em passeata e carreata, do
“trapichão“ até a nossa sede no bairro da Pajuçara, onde comemorávamos sem
quaisquer perturbações da torcida do nosso maior adversário na época; as
residências eram quase todas horizontais e as mais sofisticadas tinham muros
baixos; as famílias sentavam às portas após o jantar sem quaisquer
sobressaltos; a prostituição já existia, mas, tinha lugares próprios para a sua
prática; não precisávamos sacrificar nossas rendas para sustentar planos de
saúde; a água que nós comprávamos à CASAL era potável e servia também para
beber; a corrupção também já existia, mas, devido ao tamanho do estado, a sua
prática era bem menor; a eleição de políticos medíocres se tornava menos
provável, pois, eles teriam, pelo menos, que “abrir a boca” nos comícios.
Diante do exposto, dá para imaginar que muitos desses direitos, tão
triviais, poderiam ter sido mantidos se não tivéssemos permitido a abrupta e
desumana transposição de uma pequenina cidade “sorriso”, para uma desengonçada
metrópole cheia de vícios macaqueados de centros desenvolvidos, totalmente
antagônicos à nossa pacata realidade social.
Infelizmente, os nossos filhos daqui a trinta anos não terão nada de bom
para contar. Eu, posso afirmar, que era feliz e não sabia.
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