POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES
Certo dia, um casal, ao
chegar do trabalho, encontrou algumas pessoas dentro de sua casa. Achando que
eram ladrões, eles ficaram assustados, mas um homem forte e saudável, com corpo de
halterofilista, avisou:
- Calma pessoal, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.
- Mas quem são vocês?
- Eu sou a Preguiça - respondeu
o homem - Estamos aqui para que
escolham um de nós para sair definitivamente da vida de vocês.
- Como pode você ser a Preguiça, se tens o corpo de um atleta que vive malhando
e praticando esportes? A Preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos
preguiçosos; com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.
Uma mulher velha
curvada, com a pele muito enrugada que mais parecia uma bruxa, disse:
- Eu, meus filhos, sou a Luxúria.
- Não é possível! Você não pode atrair ninguém com essa feiura!
- Não há feiura para a luxúria, queridos. Sou velha porque existo há muito
tempo entre os homens, Sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter
crianças e trazer doenças para todos, até a morte. Sou astuta e posso me
disfarçar na mais bela mulher ou homem que você já viu.
Um homem, mau cheiroso e
vestindo uns maltrapilhos de roupas que mais parecia um mendigo, se apresentou:
- Eu sou a Cobiça. Por mim, muitos já mataram; por mim, muitos abandonaram famílias
e pátria, Sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para
existir. Tenho essa aparência de mendigo porque por mais bem vestido que
apresento, mais rico que pareço, com joias, dinheiro e carros luxuosos, ainda
assim me verás, porque a cobiça está tanto para o pobre quanto para o rico.,
Uma lindíssima mulher,
de corpo escultural, cintura finíssima e de contornos impecáveis, fazendo com que tudo nela estivesse em perfeita harmonia, de forma e movimentos, disse:
- E eu, sou a Gula.
Espantados, os donos
da casa observaram:
- Sempre imaginamos que a Gula seria gorda...
- Isso é o que vocês pensam. Sou bela e atraente porque, se assim não fosse,
seria muito fácil se livrar de mim. Minha natureza é delicada. Normalmente sou
discreta. Quem tem a mim, não se apercebe. Mostro-me sempre disposta a ajudar
aqueles que querem fazer regimes, mas, na verdade, faço tudo ruir, de maneira
sutil. Destruo o prazer de viver e destruo a beleza do corpo. Também por mim,
muitas famílias se destruíram na busca da luxúria.
Sentado em uma cadeira, um senhor, também velho, mas de semblante bastante sereno, avisou, com voz doce e movimentos suaves:
- Eu sou a Ira. Alguns me conhece como Cólera. Tenho muitos milênios
também. Não sou homem nem mulher, assim como meus companheiros que estão aqui.
A dona da casa
retrucou:
- Ira? Parece mais o "vovô" que todos gostariam de ter...
O "vovô" respondeu:
- E a grande maioria me tem! Quando me aproximo, matam com crueldade, provocam brigas
horríveis e destroem cidades. Sou capaz de eliminar qualquer
sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais
protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para mostrar-lhes que a Ira pode
estar no aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas
sem se manifestar, provocando úlceras, câncer e as mais temíveis doenças.
- Eu sou a Inveja. Faço parte da história do homem desde de sua aparição - disse uma jovem que ostentava uma
coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de
fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.
- Como é a Inveja se é rica e bonita, parece ter tudo que deseja? - disse a mulher da casa.
- Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que
não são nada disso, mas eu estou entre todos. A Inveja surge pelo que não se
tem e o que não se tem é a felicidade. A felicidade depende de amor e isso
carece na humanidade. Por causa de mim, já houve muita destruição, mortes e sofrimento... Onde eu estou, também está a tristeza.
Enquanto os invasores
se explicavam, um garoto, que aparentava ter cinco a seis anos, brincava pela
casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças. A sua
face de delicados traços mostravam a plenitude da jovialidade e os olhos vívidos e
enigmáticos, parecia estar alheio aos acontecimentos, quando foi indagado pelo
casal:
- E você, garoto, o que fazes junto a esses que parecem ser a
personificação do mal?
O garoto respondeu com
um sorriso largo e olhar profundo.
- Eu sou o Orgulho.
- Orgulho?! – exclamou o casal - Você é apenas uma criança, inocente como
todas as outras.
O semblante do garoto
tomou um ar de seriedade, que assustou o casal, e ele disse:
- O Orgulho é como uma criança mesmo, mostra-se inocente e inofensivo, mas
não se enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui, querem brincar comigo?
A Preguiça interrompeu
a conversa e disse:
- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente de suas vidas.
Queremos a resposta.
O casal respondeu:
- Por favor, deem 10 minutos para que possamos pensar.
O casal se dirigiu
até o quarto onde dormem e lá fizeram várias considerações. Dez minutos depois
retornaram.
- E então? - perguntou a Gula.
- Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas.
O garoto olhou com um
olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Mas, respeitando a
decisão dirigiu-se para a saída.
Os outros iam acompanhado
o garoto, quando o casal perguntou:
- Ei, vocês vão embora também?
O menino, agora com ar
de severidade e com a voz forte de um orador disse:
- Vocês escolheram que o Orgulho saísse de vossas vidas. Fizeram a melhor
escolha, pois onde não há Orgulho, não há Preguiça porque os preguiçosos são
aqueles que se orgulham de nada fazer para viver, não percebendo que, na verdade,
vegetam. Onde não há Orgulho, não há Luxúria, pois os luxuriosos tem orgulho de
seus corpos e se julgam merecer possuir tantos corpos quantos lhe
provir, não percebendo que são apenas objetos do instinto. Onde não há
Orgulho, não há Cobiça, pois os cobiçosos tem orgulho das migalhas que possuem,
juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que são instrumentos do dinheiro. Onde não há Orgulho, não há Gula, pois
os gulosos se orgulham de sua condição e jamais admitem que o são; arrumam
desculpas para justificar a gula e não percebem que são marionetes
dos desejos. Onde não há Orgulho, não há Ira, pois os irosos se orgulham de não
serem passíveis e jamais abaixam a cabeça diante de qualquer situação; são incapazes
de permitir que a vida lhes proporcione lições de aprendizado e se revoltam com aqueles que eles julgam que não são perfeitos,
não percebendo que a sua ira é resultado de suas próprias
imperfeições. Onde não há Orgulho, não há Inveja, pois os invejosos sentem o
orgulho ferido ao verem o sucesso alheio, seja ele qual for, e precisam
constantemente superar os demais nas conquistas, não percebendo que, por isso mesmo, são meras ferramentas da insegurança e da falta de amor à vida. Adeus.
Todos saíram, sem olhar
para trás...
Nenhum comentário:
Postar um comentário