Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
Considero a festa de São João
como a mais bonita e autêntica do nosso calendário cultural. Hoje, já bastante
maltratada, sobrevive em meio aos maus costumes impostos pela feroz
globalização. Até as pessoas mais velhas que viveram as memoráveis noites de São
João, infelizmente, já se adaptaram a esse “estupro” cultural.
Lembro com bastantes saudades
dos memoráveis dias da grande festa. Parece-me que naquela época, mormente, por
ainda morarmos numa gostosa cidade provinciana, as pessoas assumiam com prazer as
suas origens nordestinas, os seus sotaques, a sua música, e os seus costumes. Quando chegava a véspera de São
João, o dia já raiava com uma atmosfera diferente; as pessoas já acordavam extasiadas,
se preparando para separar a madeira para construir as suas fogueiras; na verdade,
todos tinham pedaços de madeira velha em seus quintais, afinal, a maioria das
casas ainda era de taipa e as cobertas de caibros e ripas de madeira sem muita
qualidade, daí os quintais de terra estarem sempre abastecidos com a principal
matéria-prima do São João. A nossa casa na rua da união, em frente à praça da
faculdade, tinha um imenso quintal onde durante anos guardávamos uma imensa
quantidade de madeira, pois o nosso pai - Mário Costa - havia substituído a
antiga casa de taipa por outra de alvenaria.
À tarde, como a nossa rua ainda
era de terra, toda a vizinhança, geralmente as mulheres varriam as frentes das
casas e os filhos se encarregavam de construir as belíssimas fogueiras; muitos
fincavam bananeiras ou palhas de coqueiros ao lado das fogueiras, aos quais,
chamávamos de mastros. No final dos trabalhos a rua ficava parecendo um imenso
arraial. Nos sentíamos como se estivéssemos num lindo povoado do interior!
À noite, quando o nosso pai
chegava da alfaiataria montado em sua bicicleta, corríamos para recebê-lo,
pois, sabíamos que o bagageiro estava repleto de fogos – chuvinha, diabinho,
espanta-coió, traque, estalo-bebé, vulcão, rodinha e, os ainda, inofensivos e
lindos balões. Nesse momento, a nossa mãe já havia preparado a saborosa canjica
de milho verde. Lembro das músicas do grande Luiz Gonzaga ecoando na “moderna”
radiola, misturadas aos sons dos fogos de artifício. Os balões eram soltados
mais tarde pelos mais velhos e enfeitavam o céu, sem qualquer ameaça à
acidentes mais graves - naquela época as pessoas ainda tinham o costume de
olhar para o céu. Recordo que, junto a dezenas de outros meninos, corria pelas
ruas do Prado com espelhinhos nas mãos monitorando os balões quando notávamos
que eles perdiam altura, e, muitas das vezes, íamos resgatá-los na lagoa, já no
bairro do Vergel do lago, em frente ao saudoso bar caiçara. Quando conseguíamos
trazê-los de volta comemorávamos como se fossem troféus. No final da noite,
quando as fogueiras começavam a virar brasas, era chegada a hora de assar o
milho verde.
Assim era a nossa grande festa!
Inocente, sem violência, autêntica, pura, e sem invasões de “estrangeirismos”!
Hoje, para a nossa melancolia, “tá”
tudo mudado! Mas, mesmo assim, em meio à indiferença da maioria dos vizinhos,
na véspera de São João, ainda insisto em cultivar uma boa parte daquele
maravilhoso ritual.
Viva o São João!
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