quinta-feira, 24 de junho de 2021

A TURISTA

 Texto de Aloisio Guimarães

Para quem não conhece, em Palmeira dos Índios, a minha querida terra natal, existe um bairro chamado "Palmeira de Fora". Acredito que o nome do bairro surgiu porque, antigamente, não havia continuidade de casas entre o bairro e a sede do município. Cerca de 500 metros do trecho da BR 316, que ligam a sede do município ao bairro de Palmeira de Fora, eram desabitados. Ainda hoje, a situação de descontinuidade persiste, mas em menor escala. Neste trecho desabitado, a única coisa que existia era uma velha pedreira, hoje desativada, de onde foram extraídos os paralelepípedos que pavimentaram as ruas da cidade. Lembro-me muito bem que, em alguns momentos, o tráfego de veículos e pessoas era paralisado para a detonação de dinamites no local.
Antigamente, a BR 316 passava por dentro da cidade e pelo bairro de Palmeira de Fora. Por conta disso, o restaurante “O Cruzador”, em Palmeira dos Índios, era bastante conhecido e tinha um intenso movimento de clientes até que, após a construção do trevo (onde atualmente está localizada a Estação Rodoviária), o traçado da rodovia foi mudado e o renomado restaurante caiu em desgraça.
Nessa época, quem morava em Palmeira de Fora, era chamado pela população da cidade de “tabaqueiro”. Tanto é verdade que, hoje, os saudosistas moradores do bairro fundaram "Os Tabaqueiros", um bloco carnavalesco de grande sucesso no "período momesco". Ah, não precisa dizer que os “tabaqueiros” odiavam o apelido e, por favor, não vão confundir “tabaqueiro” com “tabacudo” - que é outro "departamento"...
Chega de conversa fiada e vamos ao causo:
Nos anos 90, Alaíde, uma conhecida “tabaqueira”, cansada de do trabalho árduo da roça, resolveu realizar "o seu sonho de consumo" e se mudou para o Rio de Janeiro, tentar uma melhor  sorte. Copacabana, Ipanema, Pão de Açúcar, Cristo Redentor... Mas uma coisa ela desconhecia: os assaltos já eram comuns na "Cidade Maravilhosa", coisas que nem se ouvia falar no seu torrão natal.
Assim que chegou ao Rio de Janeiro, matuta de marca maior, Alaíde tratou de logo de se arrumar: colocou o seu melhor vestido de "chita", laquê nos cabelos, brincos enormes, batom vermelho, perfume "Lancaster", sapato alto e, no pescoço, um imenso colar, folheado a ouro. E foi assim com este visual, toda "emperiquitada", que ela se mandou para conhecer a renomado Praia de Copacabana.
Maravilhada com a mais famosa praia do país, em dado momento, a única coisa que sentiu foi um enorme puxão no seu pescoço: um ladrão tinha arrancado o seu colar. Ela não teve nem tempo se refazer do susto, quando o ladrão jogou o colar na sua cara e gritou:
- Tenha vergonha, use ouro!
Pronto, um santo e amargo remédio: Alaíde veio embora no dia seguinte e nunca mais voltou ao Rio de Janeiro; talvez por medo de assaltos ou pela vergonha de saberem que ela não usa ouro.
Hoje, ela se dá muito bem satisfeita visitando o Cristo... O Cristo do Goiti, monumento que fica na serra do mesmo nome e abençoa a nossa velha e querida Palmeira!

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