
Ele
estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à
mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca
será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda
pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um
pneu. Furou-lhe um pneu.
Com
dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha
contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus
sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente
não funcionaria, resignação e reticências… Conseguiu fazer o macaco funcionar,
ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua
aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para
pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou.
A
aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde
desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as
mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no
que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às
perguntas da mulher antes de ela fazê-las.
- Você não sabe o que me aconteceu!
- O quê?
- Uma coisa incrível.
- O quê?
- Contando ninguém acredita.
- Conta!
- Você não nota nada de diferente em
mim? Não está faltando nada?
- Não.
- Olhe.
E
ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.
- O que aconteceu?
E
ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no
asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e
desaparecendo.
- Que coisa - diria a mulher, calmamente.
- Não é difícil de acreditar?
- Não. É perfeitamente possível.
- Pois é. Eu…
- Seu cretino!
- Meu bem…
- Está me achando com cara de boba?
De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para
namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda
tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.
- Mas, meu bem…
- Eu sei onde está essa aliança.
Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira
redonda. Seu sem-vergonha!
E
ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações.
Ele
chegou em casa sem dizer nada.
- Por que o atraso? Muito trânsito.
Por que essa cara?
- Nada, nada....
E,
finalmente:
- Que fim levou a sua aliança?
E
ele disse:
- Tirei para namorar. Para fazer um
programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser
encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.
Ela
fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos
depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles,
mas que eles, com bom-senso, a venceriam.
- O mais importante é que você não
mentiu pra mim.
E
foi tratar do jantar.
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