sábado, 28 de outubro de 2017

AMOR GRAMATICAL

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

O texto  é de autoria incerta, como boa parte daquilo que circula pela Internet. Além de criativo e de bom humor, poderá servir de gancho para uma revisão nos seus conhecimentos da Língua Portuguesa.
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, alguns anos bem vividos pelas preposições da vida; o artigo era bem definido, feminino singular. Era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal, ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo gostou da trama...
Os dois sozinhos num lugar sem ninguém ver e ouvir. E, sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a conversar, a mesoclisar-se com falas melífluas. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu-se encantar com a eufonia discursiva do aposto.
De repente, o elevador para, só com os dois lá dentro: "ótimo" - pensou o substantivo - "um bom lapso para provocar alguns sinônimos".
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a movimentar-se. Só que, em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal e entrou com ela em seu ordinal depois do terceiro, e então quedou-se sem proferir nenhum apotegma. Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em elipse, ouvindo uma fonética clássica, tônica e rítmica.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e uma sílaba com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se tornar sinclítico. Ela foi deixando, ele usando todo o seu repertório de declinações verbais, e, rapidamente chegaram a um imperativo: todas as coordenadas assindéticas diziam que iriam terminar numa relação transitiva direta.
Começaram a se aproximar, tocando o vocabulário. Ele sentiu de imediato seu ditongo crescente. E ela ja experimentava a umidade sintática e intumescência enclítica. Abraçaram-se em síncope: numa pontuação tão minúscula que nem um período simples passaria entre ambos.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele não exclamou-se nem perdeu o ritmo: sugeriu uma ou outra soletrada, inclusive, se fosse o caso, colocando o apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essa retórica. Estava totalmente oxítona às metáforas dele. O resultado morfológico é que foram para o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa.
Entre beijos, carícias, parônimos e interjeições quase afônicas, ele foi avançando cada vez mais. Ficaram uns hiatos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, oscilava entre o parnasiano e o gongórico.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular. Ela, eufêmica, simulava um perfeito agente da passiva. Ele, todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular, quase perdia o fôlego na sintaxe e já não sabia mais a semântica das coisas.
Nisso, a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções, adjetivos e locuções nos dois, que se encolheram gerundialmente, sem crases e definitivamente apócrifos.
Mas, ao ver os cacófatos da jovem e outras figuras de linguagem iconográfica feminina, em acentuação tônica e subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus ablativos e declarou o seu particípio na prosopopeia.
O casal se entreolhou-se parônimo. E viu que esse desfecho talvez fosse melhor do que uma hipérbole por todo o edifício.
O verbo auxiliar se entusiasmou e foi logo mostrando o seu adjunto adnominal maiúsculo. "Que loucura, minha gente"! Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.
Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa em negrito, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma "mesóclise-a-trois"!
E ainda impunha condições analíticas aditivas. Não bastasse querer abusar dos aparelhos fonéticos, numa regra oral que não estava escrita, queria também um transitivo direto no gerúndio do substantivo, para só depois culminar com o complemento adverbial no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa - e, sobretudo, pensando seriamente na diástase do seu infinitivo - resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.
Foi o que se deu! (por favor, não leia rápido demais).

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