POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES
Serapião era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da cidade,
tendo ao seu lado, o fiel escudeiro, um vira-lata que atendia pelo nome de “Malhado”.

Eles não tinham onde dormir. Onde anoiteciam, lá dormiam.
Quando chovia, procuravam abrigo embaixo da ponte.
Serapião não pedia dinheiro. Aceitava sempre um pão, uma banana, um
pedaço de bolo ou um almoço, feito com sobras de comida. Quando
suas roupas estavam imprestáveis, logo era socorrido por alguma alma caridosa,
mudando o visual, o que o tornava alvo de brincadeiras.
Serapião era conhecido como um homem bom, que perdera a
razão, a família, os amigos e até a identidade. Não bebia, era educado e
estava sempre tranquilo, mesmo quando não havia recebido nem um pouco de
comida.
Dizia sempre que Deus lhe daria na hora certa e que, na hora
que Deus determinava, alguém lhe estendia uma porção de alimentos... E,
tão logo recebia ajuda, agradecia com reverência, rogando a Deus pela
pessoa que o ajudara. Uma porção de tudo que ganhava dava primeiro para o Malhado,
que, comia e, paciente, ficava esperando por mais um pouco.
Certo dia, alguém lhe perguntou como ele tinha conhecido e qual era
a idade de Malhado. Ele respondeu:
- Eu não tenho
ideia... Nossa amizade começou com um pedaço de pão. Ele parecia estar faminto,
lhe ofereci um pouco do meu almoço, ele aceitou e agradeceu, abanando o
rabo. Daí, não me largou mais! Ele me ajuda muito e eu retribuo essa
ajuda sempre que posso...
- E como vocês se
ajudam?
- Ele me vigia
quando estou dormindo; ninguém pode chegar perto que ele late e
ataca. Quando ele dorme, eu fico vigiando para que outro cachorro não o
incomode.
Continuando a conversa, o homem indagou:
- Serapião, você tem
algum desejo na vida?
- Sim - respondeu
ele - tenho vontade de
comer um cachorro quente, daqueles que a Zezé vende ali na esquina.
- Só isso?
- É... No momento, é
só isso que eu desejo.
- Pois bem, vou
satisfazer agora mesmo esse grande desejo - disse o homem.
O homem saiu e comprou um cachorro quente para o mendigo. Assim que
viu o alimento, Serapião arregalou os olhos, deu um sorriso e agradeceu a
dádiva. Em seguida, tirou a salsicha e deu para o Malhado, comendo apenas
o pão com o molho.
O homem não entendeu aquele gesto do mendigo, pois imaginava
ser a salsicha o melhor pedaço, e perguntou:
- Por que você deu
logo a salsicha, para o Malhado?
Ele, com a boca cheia, ele respondeu:
- Para o
meu amigo, o melhor pedaço!
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