sábado, 21 de outubro de 2017

POEMA MATEMÁTICO

Texto de Millôr Fernandes

Às folhas tantas do livro matemático,
Um Quociente apaixonou-se um dia,
Doidamente,
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base
Uma figura Impar
Olhos Romboides, boca Trapezoide,
Corpo Octogonal, seios Esferoides.
Fez da sua,
Uma vida paralela à dela
Até que se encontraram no Infinito.
“- Quem és tu?” indagou ele, com ânsia Radical.
"- Eu sou a Soma do Quadrado dos Catetos,
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que em aritmética, corresponde a almas irmãs,
Primos entre si.
E Assim se amaram, ao quadrado da velocidade da luz,
Numa sexta Potenciação,
Traçando, ao sabor do momento e da paixão,
Retas,Curvas, Círculos e linha Senoidais
Nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas Enclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções Nextonianas e Pitagóricas
E, enfim resolveram se casar, constituir um lar,
Mais que um lar,
Uma Perpendicular.
Convidaram os padrinhos,
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram Planos, Equações e Diagramas, para o futuro,
Sonhando com a felicidade,
Integral e Diferencial.
E se casaram e tiveram uma Secante e três Cones,
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia, em que tudo, afinal, veio monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum.
Frequentador de Círculos Concêntricos, Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela, uma Grandeza Absoluta
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais um todo, uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso...
Desse problema, ela era a Fração mais Ordinária,
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era espúrio passou a ser Moralidade
Como, aliás, em qualquer Sociedade.

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