segunda-feira, 30 de julho de 2018

A MINHA PRIMEIRA VEZ

Texto de Aloisio Guimarães

Uma das passagens mais marcantes e inesquecíveis da minha vida foi quando chamei o meu primeiro palavrão, coisa que eu nem sabia o que era.  Acho que devia ter uns 8 a 10 anos de idade... Nessa época, morávamos na Rua Graciliano Ramos, perto de um sítio, de propriedade de Neli Roque, uma solteirona, com aparência alemã, muito endinheirada, para os padrões da época, mas matutona. Neste sítio dela existia um pé de cajá...
Certo dia, já por volta das onze e meia, o meu irmão mais velho, Luiz Antonio, carinhosamente chamado de Lutonho, me chamou e disse:
- Alu (meu nome familiar), vamos lá, no sítio da Neli Roque, pegar cajá para fazer o suco para o almoço.
Na verdade, pegar, significava roubar, uma vez que não tínhamos autorização para penetrar no sítio de tirar alguma coisa de lá. Pois bem, sol quente, pés descalços, lá fomos nós, eu, Lutonho e Casé (outro irmão), mato adentro, em direção ao pé de cajá. De repente, piso em um espinho e imediatamente, exclamo:
- Porra!
Confesso que não me lembro de como aprendi este nome. Só sei que assim que terminei o palavrão, Lutonho virou-se para mim e perguntou:
- Você sabe o que é porra?
Respondi, todo tímido:
- Não...
Lutonho, pegando nos seus órgãos genitais, falou:
- Porra é isso aqui...
Choroso, respondi:
- Eu não sabia...
No que Lutonho, conhecendo o meu saudoso pai, "que era mais grosso do que papel de embrulhar pregos", alertou:
- Se papai pegar vocês falando isso, vai matar você de uma pisa!
Um santo remédio...
Desde esse dia, evito falar palavrões; falo, mas pouco.

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