Texto
de Carlito Lima
O Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva - NPOR - do 20º Batalhão de
Caçadores, hoje 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, é celeiro de muitos
oficiais da reserva do Exército Brasileiro.
Anos atrás, dois tenentes formados pelo NPOR foram estagiar seis meses no
14º Regimento de Infantaria sediado em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco.
Os tenentes Cavalcanti e Tenório se apresentaram ao comando com ardor e
amor à Pátria. Em tempo integral no quartel, dormiam no quarto de oficiais. Bons
militares, aprendiam as lições, o trabalho do Regimento. Entretanto, nem tudo
era ralação, davam bordejos e paqueradas pela vizinhança, pegavam o trem em
busca dos cabarés do Recife.
Numa dessas viagens de trem eles conheceram Marília e Virgínia. Achado
do destino, as duas paraibanas trabalhavam em uma fábrica naquela região,
moravam juntas numa casa em Tejipió, perto do 14º R.I. Eram mulheres livres,
independentes, coisa raríssima naquela época. Com uma semana de namoro os dois
tenentes estavam dentro da pequena casa das operárias. Entendiam-se às maravilhas,
nos passeios, nas conversas, na cerveja e na cama, havia um probleminha, as ideias
socialistas das operárias chocavam com o pensamento conservador dos militares.
Tenente Cavalcanti encantou-se com a beleza de Virgínia, loura, olhos
cinza, serena na conversa e no amor. Depois de algum tempo, ao ouvir os gritos
de euforia sexual, os altos gemidos da morena Marília, ele ficou com inveja do
amigo. Tenório confidenciou, nunca havia conhecido mulher como aquela, gostava
do amor, melhor de cama não existia, só parava de gritar na apoteose, ele tinha
que dar duas tapinhas na cara. Ele ficou inebriado com tantas formas de amor
inventadas pela namorada.
Passaram cinco meses, inesquecíveis tardes e noites de amor na pequena
casa das operárias de Tejipió.
Terminado o estágio, retornaram a Maceió. Despedida com choro, sexo e cerveja,
a casinha de Tejipió tremeu naquela noitada com o trabalho dos quatro amantes.
Três semanas depois da despedida, no 20º BC, Cavalcanti recebeu carta de
Virgínia, final de semana as duas estariam em Maceió para matar saudade. Quando
Tenório soube, entrou em pânico, noivo, se casaria no próximo mês, se o vissem
com Marília, a noiva ciumentíssima não perdoaria. Pediu ao amigo dar desculpas,
cooperava financeiramente com as despesas, contudo as deixassem longe de sua
área. Cavalcanti também era noivo em Major Isidoro , pequena e bonita cidade do sertão
alagoano, mandou recado, não viajaria no fim-de-semana por obrigações militares.
Fardado, foi esperar as operárias na Rodoviária na noite da sexta-feira.
Saltaram do ônibus, Virgínia se enlaçou com o namorado, beijando-lhe a
boca. Marília, decepcionada, ficou triste sem a recepção esperada, sem seu
Tenente. Hospedaram-se do Hotel Pimenta, centro da cidade. Marília, boa colega,
inventou dar uma volta a pé nos arredores, dando liberdade para o casal se amar
no pequeno quarto do hotel.
No sábado passearam, navegaram na lancha do horário na Lagoa Mundaú. Domingo
à tarde, depois da praia, foram ao Cinearte. Cavalcanti combinou com Marília
esperar Tenório no hotel, ele apareceria, certeza. Quando o filme, “Suplício de
uma Saudade”, estava no início, Cavalcanti reclamou de forte dor de barriga,
pediu licença à namorada, levantou-se, voltaria em poucos minutos. Correu ao Hotel
Pimenta, bateu no quarto. Marília ao abrir a porta não conseguiu falar, ele abraçou
a morena, ela não resistiu. Cavalcanti pedia, grita meu amor, ela obedecia. Amaram-se
aos gritos, finalmente um urro canino, seguido de duas tapinhas. Cavalcanti
fumou um cigarro, retornou correndo para o cinema, sentou-se ao lado da
desconfiada Virgínia.
Depois do filme, no quarto do hotel, Virgínia percebeu uma carteira de
cigarros continental, sem filtro, em cima da cabeceira. Muito viva, descobriu a
traição do namorado e da amiga. Arrumou a mala, partiu para a Rodoviária. Marília
havia entrada em férias, passou mais três semanas e meia de amor com o namorado
substituto. Os hóspedes do Hotel Pimenta se acostumaram com os gritos de amor
da quente paraibana e do ardiloso tenente.
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