Texto
de Carlito Lima
Adamastor desde menino foi ligado ao dinheiro, respira notas,
raciocina cifrões, sonha riquezas. Agiota, homem ligado aos poderosos, metido
em negociatas. Financia candidaturas políticas; a cobrança vem depois, juros
altíssimos, frequenta com maior intimidade os gabinetes em Brasília.
Adamastor teve casamentos desmantelados. A primeira mulher, Júlia, nascida
na mais alta aristocracia açucareira, família tradicional, não aguentou as
farras, as amantes e a usura do marido. Sete anos de casados, pediu divórcio. Adamastor
arrumou seus panos, saiu de casa, deixou a esposa, dois filhos. Continuou seus
negócios, tenebrosas transações, um gangster.
Mais dois casamentos desfeitos, mais dois filhos. Hoje, vive
sozinho num belo apartamento, praia de Ponta Verde.
Aprendeu a lidar com o computador, seu passatempo, pesquisas,
informações, negócios. Pegou a mania de homem solitário, namorar em salas de
bate-papo na Internet. Conversa até altas horas da noite. “Namorou” e conheceu
algumas internautas. Ele se gaba das namoradas, das aventuras com belas
mulheres conhecidas nas conversas.
Em certa viagem a São Paulo marcou encontro com Bruninha, conhecida
nas conversas internáuticas. A jovem disse
ser consultora da Bolsa de Valores, entendida em finanças, ele encantou-se. Marcou
jantar num belo restaurante, centro da cidade. Bruninha ao entrar, elegante,
parecia estar deslizando em passarela, fascinou nosso amigo, média estatura,
sentou-se cruzando as pernas, pele rosada, parecia porcelana. Ele deslumbrou-se
com a beleza dos cabelos, olhos negros, sobrancelhas grossas, nariz afilado, boca
carnuda, lembrava Angelina Jolie, sua artista preferida.
Depois do jantar foram a uma casa de dança, música suave, corpos
agarrados, vinho, boa conversa, terminaram a noitada na suíte do hotel. Bruna
tirou a roupa num ritual, devagar, Adamastor ficou alucinado, abraçou-a,
beijou-a, na boca, no pescoço, derrubou-a na cama acariciando-a. O resto é
silêncio como diria Shakespeare. Bruna satisfez-se em carinhos, beijos, carícia.
Ele sentiu-se o macho daquela mulher.
Depois de uma semana em São Paulo, o casal pousou em Maceió, morando
de cama e mesa. Bruna feliz com a nova morada em frente ao mar verde-azulado,
queria trabalhar, se ofereceu contribuir no escritório da Factory, entendia de
finanças. Além de boa de cama era ótima de negócio. Que mais queria Adamastor?
Viviam no céu, em lua-de-mel. Ganhava dinheiro na agiotagem e transava com sua
musa. Sua assessora ajudava no pagamento de pessoal, no controle dos
recebimentos e contas bancárias.
Numa noite de sexta-feira, retornando de uma reunião não encontrou Bruna
no apartamento. Havia combinado jantar.
Esperou um pouco, telefonou para o celular, fora do ar. Discou várias vezes, preocupado,
Bruninha era pontual, dizia ser a pontualidade a marca da civilidade. Às nove horas Adamastor abriu o guarda-roupa
de Bruna, não havia um vestido sequer. Telefonou para alguns conhecidos,
ninguém sabia do paradeiro da namorada. Foi ao aeroporto, algumas
investigações, no balcão alguém informou, uma mulher, com aquela descrição tomou
um avião para S. Paulo no vôo das 16 horas. O nome Bruna não constava na lista
de passageiro.
Adamastor desesperado retornou ao apartamento, tentou lembrar algum
amigo comum em São Paulo, nenhum.
Passou um fim de semana angustiante, a sensibilidade indicava anormalidade
grave acontecendo. Segunda - feira pela manhã, assim que o banco abriu, conferiu
todas as contas, mais de duas horas confrontando, cotejando números, descobriu uma
baixa aproximadamente de R$ 300 mil reais em suas contas; retiradas, descontos
de cheques. Durante os quatro meses, Bruninha conseguiu acessos e senhas de
contas e cartões, fez um trabalho calculado em pequenas retiradas.
Adamastor teve um ataque de nervos, em seus sessenta anos de vida ninguém
teve a ousadia em roubá-lo daquela maneira, precisou se medicar, a depressão o
envolveu. Fez as contas, quatro meses de convivência, média de três por semana,
aproximadamente 48 transadas, dividiu na calculadora, resultado, R$ 6.250, 00
cada, mulher cara.
Não aguentou esperar, na quarta-feira tomou um avião para São
Paulo, procurou a Polícia. Pela foto, Bruna foi reconhecida, chama-se
Hortência, trapaceira de primeira ordem, especialista em golpe na Internet com
velhinhos babacas, apaixonados, existiam 14 queixas de senhores sessentões, difícil
encontrá-la, ladra fina, sem deixar vestígios.
Adamastor saiu mais frustrado da Delegacia. Além de ludibriado, foi
taxado de velhinho babaca, apaixonado.
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