sábado, 9 de maio de 2015

PROFISSÃO OU BICO?

Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR

Sempre ressaltei em diversos artigos escritos para jornais, blogs e sites, a importância, ou imprescindibilidade da educação para o equilíbrio social e econômico do nosso país. Escrevo, sem pretender ser o dono da verdade, mas, com a segurança de ter passado toda a minha vida em salas de aula, lecionando em todos os níveis escolares da educação pública e privada. Essa relação somente foi destroçada quando durante as férias do último ano letivo recebi um e-mail do coordenador do curso de administração do Cesmac - um administrador - comunicando que não mais servia para aquela instituição, pondo um fim melancólico a uma carreira que eu tanto amava. É importante esclarecer que outros competentes e dedicados profissionais também tiveram o mesmo tratamento e destino, ou, foram demitidos da mesma forma, na mesma época, e, pelos mesmos escusos motivos. É fundamental colocarmos que isso não é regra geral naquela instituição.
Se prestarmos bem atenção iremos descobrir que a profissão de professor, que deveria ser a mais delicada e respeitada pelo governo e pela sociedade, é a única que pode ser exercida, legalmente, por qualquer pessoa, mesmo que a sua vocação ou escolha profissional não tenha sido o magistério; ou seja, qualquer outro profissional que necessite de uma renda extra pode dar aulas em algum lugar. Por exemplo: para atuar como médico o profissional terá que ser formado em medicina, mas, se ele necessitar fazer um “bico”, poderá dar aulas, legalmente, em qualquer instituição de nível superior! É evidente que a recíproca será criminosa, e, podemos fazer essa ilação em todas as outras nobres formações, sempre com a negativa da reciprocidade.
Nas faculdades particulares, por exemplo, a exigência agora é que o pretendente à professor, apresente um título qualquer de mestre, mesmo que aquela titulação não tenha a devida credibilidade, ou, nada tenha haver com a área na qual ele irá atuar. A sua didática pouco irá importar, pois a instituição irá propagar que ali tem mestres ou doutores. Na instituição onde trabalhei por doze anos, cansei de ouvir ameaças do tipo: “Só vai ficar aqui quem for mestre ou doutor”! Ser um bom professor seria apenas um mero detalhe sem qualquer importância para o capital. É fulcral ressaltarmos que o MEC cobra dessas instituições a tal titulação. É também importante que não neguemos a importância da titulação dos professores, desde que fossem dadas as condições para tal, e que essas formações fossem genuínas e eficazes. O que presenciamos nestas instituições privadas são profissionais mal remunerados, desesperados com a ameaça do desemprego, se endividando para adquirirem titulações, muitas vezes de forma precária, concomitantemente, ao trabalho como professor. Nessas faculdades os problemas e suas ramificações tornam-se bem mais complexos, pois, além da falta de formação didática de alguns profissionais, ocorrem outros entraves inerentes ao mundo capitalista, à exemplo das demissões sem justa causa, onde muitas das vezes,  um  profissional sério e competente  é demitido por antipatia de quem comanda os cursos, tendo como recompensa legal, o recebimento da multa de 40% paga pela instituição que o defenestrou; os alunos e o profissional que se danem no feroz mercado de trabalho! Mesmo nas escolas públicas onde os professores só deveriam adentrá-la através de concursos públicos, ainda observamos monitores, muitos sem a devida formação no magistério. Nas Universidades públicas ainda encontramos, muito mais na área das ciências exatas, profissionais de elevada capacidade técnica, mas, sem nenhuma formação didática, o que dificulta a transmissão do conhecimento.
Seria imprescindível que os arautos da educação compreendessem que a verdadeira função de um mestre ou um doutor numa instituição é a de pesquisador, e não a de professor “biqueiro” como já ficou institucionalizada em nosso país tão carente de pesquisas em todas as áreas.

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