domingo, 31 de maio de 2015

VENTOS DA RUAH

Texto de Mauro Brandão

Os ventos são assustadores, perigosos, frenéticos, alucinantes...
das máquinas frias, das ruas agonizantes, das buzinas nervosas,
dos ruflares de plástico, dos ruídos das rajadas, dos niqueis prostituídos,
dos gritos dos infelizes, dos apelos dos fanáticos, da arrogância dos egoístas,
das tempestades dos míopes, dos abismos vazios, do viver sem viver... 

Ventos da fome, da injustiça, da exploração surda, do desamor.
Ventos da vaidade, da cobiça, da inveja, da gula insaciável.
Ventos da intolerância, do ódio gratuito, do ser sem ser!
Ventos da tempestade escavadora e destruidora de uma Terra...
Terra! Que nunca foi nossa, e que sempre, nossa, será! 

Mas há além da visão, um vento que nos liberta da prisão,
e que abre, invadindo em tudo o que há, uma brecha na fresta da dor.
Há um vento implacável, santo, ungido, e que invade o ser de luz.
Há sim, um vento que se liberta dos muros da escravidão
e sopra o ser pelo encantamento que lhe explode o escuro. 

Há o Vento do Espírito, o Vento da Ruah!
Que nos faz enxergar além do ofuscamento dos relâmpagos.
Que nos enche de asas até trazer em nós o luar e o vento solar.
O Vento da Ruah é o sopro do Libertador que surge do caos,
e traz a beleza, a graça, o êxtase, a alegria e o sentido do vento. 

Vento, brisa, calmaria, viração, tempestade, ventania...
Sua vida está de um lado ou de outro nesse espelho de si.
De um lado do vento, os ventos que lhe cegam e ensurdecem.
Do outro lado do vento, os ventos que lhe voam e lhe mergulham...
Voam e mergulham... aos ventos do Espírito, os Ventos de Ruah.
 

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